Título: Justiça, Planalto e Anac articularam salvamento da Varig, diz Zuanazzi
Autor:
Fonte: O Globo, 13/06/2008, Economia, p. 28

CAIXA-PRETA: Compadre de Lula teria participado ativamente da operação

Ex-presidente da agência admite contatos com Dilma em momentos críticos

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O depoimento do ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Milton Zuanazzi, quarta-feira no Senado, revelou que a aprovação da venda da VarigLog e a operação de salvamento da companhia foram articuladas entre Justiça, Palácio do Planalto e órgão regulador - o que poderia configurar a pressão denunciada pela ex-diretora da Anac, Denise Abreu. Ele admitiu que falou com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e sua vice, Erenice Guerra, em momentos críticos. O escritório de Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e representante dos compradores, participou ativamente do processo, que teve seu auge entre os dias 19 e 23 de junho de 2006.

Zuanazzi contou ter recebido uma ligação do juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo processo de falência da Varig, em 19 de junho de 2006, comunicando informalmente que a aérea estava perto da inviabilidade. Zuanazzi instalou a sala de crise no Ministério da Defesa, à qual foram chamadas a Aeronáutica e outras empresas. O juiz Ayoub confirmou ontem que havia combinado previamente com Zuanazzi de avisá-lo, com uma margem de 72 horas, do risco real de a Varig quebrar.

Segundo Zuanazzi, no dia 21 de junho, quarta-feira, Ayoub ligou novamente e disse que "havia luz", pois existia um interessado na nova Varig. No dia seguinte, revelou que o grupo era a Volo do Brasil, mas que haveria uma condição: a venda precisava ser aprovada, porque a Volo queria entrar como companhia aérea no negócio. Na quinta-feira, então, Zuanazzi se encontrou com Dilma e ouviu que o governo tinha como posição salvar a companhia, mas que a decisão final caberia à agência. Foi após esta conversa que Zuanazzi convocou reunião extraordinária para o dia seguinte, 23 de junho, quando o negócio foi liberado.

Oposição agora mira no compadre de Lula

Ayoub explicou ontem que na proposta apresentada pela Volo havia uma condição: para que fosse mantida a oferta, teria que haver a outorga do poder concedente (no caso, a Anac) para que conseguisse voar.

- Na mesma proposta, constava uma cláusula na qual a VarigLog diz que, se fosse vencedora do leilão e não conseguisse a outorga, teria direito a vender o ativo. A Justiça não resolveu nem poderia resolver sobre isso porque a outorga é de competência da Anac - reforçou Ayoub.

Zuanazzi disse que, no dia 23, falou com Erenice, mas minimizou o fato, dizendo que "todo mundo falou com Erenice".

Algumas divergências nos depoimentos reforçam a suspeita, por parte da oposição, de que houve tráfico de influência. Uma delas diz respeito à retirada das representações que o escritório de Teixeira movia na Defesa contra Denise. Ela afirmou que a representação foi retirada no dia 23 de junho. Zuanazzi diz que apenas telefonou para a Defesa, que teria informado que a representação ainda não havia sido aberta. Mas documento levado por Denise demonstra que o escritório pediu o arquivamento da representação.

Sem a apresentação de provas consistentes por parte de Denise, a oposição já reconhece, de forma reservada, que ficará muito difícil abrir uma CPI para apurar irregularidades. Dilma parece compartilhar da avaliação. Na reunião com a bancada capixaba, ontem, ela disse ter achado que "a moça" não tinha nada o que denunciar.

Diante disso, a oposição mudou a estratégia e passou a mirar em Teixeira. (Henrique Gomes Batista, Leila Suwwan, Adriana Vasconcelos, Gerson Camarotti e Erica Ribeiro)