Título: IR: esperar restituição é o melhor investimento
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 16/06/2008, Economia, p. 18
Para especialistas, financiamentos de bancos que antecipam devoluJuliana Rangel
Começa hoje a temporada de restituições do Imposto de Renda e os bancos já oferecem linhas de crédito para quem quer antecipar o recebimento do dinheiro. Cobrando juros médios de 3% ao mês em financiamentos que vão de 75% a 100% do valor a ser devolvido pelo Fisco, as instituições aceitam a quitação em parcela única, na data do depósito da devolução do imposto pela Receita, ou em prazos que variam a cada instituição financeira. Mas, segundo especialistas em finanças pessoais, o consumidor só deve contratar esses financiamentos em duas condições: se estiver com dívidas no cheque especial, cujas taxas chegam a 10% ao mês, ou no cartão de crédito, com juro mensal de 11% a 14%.
Nas contas do professor de finanças do Ibmec-Rio, Gilberto Braga, uma dívida de R$400 no cheque especial, por exemplo, pode subir a R$740 em oito meses, considerando uma taxa de 8% ao mês. Se a dívida for de R$800, o valor chega a R$1.480.
A professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Myrian Lund acha que a troca de uma dívida por outra, mesmo com juro mais baixo, só vale a pena se for para liquidar o débito.
¿ Se o montante só der para abater uma parte da dívida no cheque especial ou no cartão de crédito, não recomendo. O ideal, nesse caso, é negociar um abatimento com o banco ¿ avalia Myrian.
Adiantamento não deve ser tomado para compra de bens
Para aqueles que têm conta-salário no mesmo banco em que devem, Myrian aconselha:
¿ Nesse caso o melhor é passar a conta-salário para outra instituição. Se não, o banco já retira 30% do valor depositado para pagar a dívida. E isso provoca uma bola de neve, porque o devedor nunca conseguirá se organizar, já que estará sempre com o orçamento incompleto.
Prudência é a dica de Reinaldo Domingos, consultor e autor do livro ¿Terapia financeira¿. Ele diz que a antecipação da restituição jamais deve ser feita para a compra de um bem de consumo. Domingos ressalta que as linhas de antecipação do IR terminam, geralmente, em dezembro.
¿ Se a pessoa cair na malha fina ou se a restituição atrasar, o financiamento se transforma em crédito pessoal. E ela terá que pagar parcelas do empréstimo mensalmente, possivelmente a um juro maior. É uma situação que ela nem esperava ao antecipar a restituição do IR ¿ destaca.
Quem tiver paciência, por sua vez, pode se surpreender ao retirar a restituição. O valor é corrigido pela variação da taxa Selic, fixada pelo Banco Central a cada 45 dias. Atualmente, ela está em 12,25% ao ano e a tendência é de que suba mais nos próximos meses.
¿ A Selic é uma das melhores aplicações do mercado, livre de Imposto de Renda, taxa de administração ou outros custos. Não há razão para o consumidor trocar esse ganho por uma dívida ¿ observa Domingos.
Antecipar a restituição para investir também não é vantagem, para os especialistas. Na Bolsa de Valores de São Paulo, investimentos estão sempre acompanhados de riscos. Já no caso dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário, títulos emitidos pelos bancos para captar dinheiro em troca de uma taxa de juros) o rendimento está em torno de 0,76% ao mês, abaixo da Selic.
¿ Também, não vale a pena ¿ atesta Gilberto Braga.
Segundo ele, considerando que o banco adiante 80% do valor a ser restituído a uma pessoa que tenha mil reais. Ela irá receber, no financiamento, R$800. Aplicando essa quantia a um rendimento de 0,76% ao mês no CDB, ela teria, no fim de oito meses, R$849,95.
¿ Se deixasse os mil reais rendendo à taxa Selic, o ganho final seria de R$1.080,08 ¿ compara.
ção do imposto só são vantajosos para quitar dívida mais cara