Título: PT quer candidatos em 20 capitais
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 15/06/2008, O País, p. 4

Estratégia irrita partidos aliados e pode ter reflexos nas alianças para 2010

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Com objetivo claro de fortalecer o partido na onda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT decidiu lançar o maior número possível de candidatos próprios às prefeituras, principalmente em capitais, grandes cidades e na região Nordeste, onde o governo federal está melhor avaliado. A idéia é repetir pelo menos parte do sucesso do PMDB no governo do ex-presidente José Sarney, em 1986, que, no auge do Plano Cruzado, elegeu 26 governadores. A presença dos candidatos próprios é oportunidade também de o PT avaliar a força de Lula para transferir votos em todos os cenários regionais.

Para os estrategistas do PT, é no Nordeste que estão as grandes chances de vencer as eleições, fortalecendo o partido para 2010. Mapeamento feito pelo GLOBO, com dados dos partidos, mostra que o PT quer lançar candidato próprio em 20 capitais. As únicas exceções serão São Luís e Aracaju, onde apoiará o PCdoB, em João Pessoa e Boa Vista, com PSB, e em Goiânia, onde apóia o PMDB. Há indefinição em Belo Horizonte, já que houve veto à presença do PSDB na chapa encabeçada pelo PSB.

- O PT lançará candidatos no maior número possível de cidades. E agora, que o presidente Lula está no governo, isso ajuda nossos candidatos. É claro que há um clima favorável. Nossos candidatos podem capitalizar a gestão do presidente - reconhece o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

- É preciso deixar claro que Lula, sozinho, não elege ninguém. O candidato tem que fazer campanha.

Mas a estratégia petista, que insiste até em candidaturas fracas, irrita os aliados, principalmente os partidos do Bloquinho (PSB, PCdoB e PDT). Eles criticam o que chamam de projeto hegemônico do PT, que exclui tradicionais partidos do campo da esquerda. Essa postura promete reflexos em 2010.

- Por que o PT tem dificuldade de apoiar o PCdoB quando temos candidatos mais bem colocados em várias cidades? - questiona o líder do PCdoB, Renildo Calheiros (PE). - É preciso ter reciprocidade

Como reação, o PCdoB decidiu lançar o maior número possível de candidatos. Já confirmou 13 nomes em capitais. Há forte pressão para uma solução em Rio, Belo Horizonte e São Paulo. O PSB é outro aliado de Lula que não se conforma com o veto da direção nacional do PT à aliança em Belo Horizonte em favor da candidatura do empresário Márcio Lacerda, ex-secretário do governo do tucano Aécio Neves. Esse é um dos motivos que levam o PSB a negar apoio à petista Marta Suplicy em São Paulo.

A intransigência do PT no Rio, onde o candidato Alessandro Molon se recusa a retirar a candidatura em favor de Jandira Feghali, do PCdoB, que teria muito mais chances de vitória, também provoca reflexos em São Paulo. Mesmo ciente de suas limitações frente ao embate entre o atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), o tucano Geraldo Alckmin e Marta Suplicy, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ganhou um argumento para levar adiante sua candidatura:

- Lançar candidatura própria não é problema, desde que ela tenha um mínimo de chance. Caso contrário, o PT só consegue demonstrar enorme dificuldade em estabelecer parcerias com seus aliados - adverte o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).

O presidente do PT justifica:

- Não queremos passar a idéia de um projeto hegemônico. Em BH o problema é o PSDB. No Rio, a Jandira está melhor nas pesquisas, então o apoio seria em favor dela. Mas a candidatura do Molon está avançada e um recuo não é fácil.