Título: Aliados cobram articulação política de Yeda
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 15/06/2008, O País, p. 8
Aliados cobram articulação política de Yeda
Colaboradores reconhecem méritos administrativos, mas dizem que ela compra brigas sem medir conseqüências
Luiza Damé
PORTO ALEGRE. Menos de dois anos após uma surpreendente vitória no Rio Grande do Sul, a governadora tucana Yeda Crusius se transformou em motivo de preocupação para o PSDB, por causa das denúncias de corrupção no governo gaúcho. Yeda foi atingida pela crise a partir de denúncias de desvio de recursos do Detran, alimentadas por seu próprio vice, Paulo Feijó (DEM).
Embora o lance decisivo tenho sido de Feijó, aliados vêem no comportamento da governadora o principal elemento da crise. Reconhecem seus méritos administrativos, mas cobram articulação política, argumentando que Yeda toma decisões sem consultá-los e compra brigas sem medir conseqüências.
A crise já derrubou quatro homens de confiança da tucana. Os problemas começaram em novembro ¿ quando a Polícia Federal desvendou uma quadrilha que teria desviado R$44 milhões dos cofres públicos entre 2003 e 2007 ¿, mas ganharam força semana passada, quando Feijó divulgou conversa com o então chefe da Casa Civil, Cézar Busatto (PPS). Articulador político do Piratini, ele tentava aproximar o vice do governo para impedir avanços na CPI do Detran, mas foi flagrado dizendo que a estrutura pública é usada para financiar partidos.
As denúncias atingem pessoas próximas a Yeda, como Delson Martini (ex-secretário-geral de Governo), Marcelo Cavalcante (ex-chefe da representação gaúcha em Brasília) e o lobista Lair Ferst, mas ela tem repetido que só soube do esquema com a Operação Rodin, da PF. Segundo a tucana, o governo mantém auditorias nas estatais, as denúncias foram apuradas e os responsáveis, afastados.
Ex-secretário de Desenvolvimento, o deputado Nelson Proença (PPS) avalia que o governo não conseguiu construir uma relação política com os aliados nem com a sociedade:
¿ Ela só briga. Ela é corajosa, sabe o que tem de ser feito, mas não se articula politicamente.
O primeiro tropeço ocorreu antes de assumir o cargo, quando tentou aumentar impostos para garantir receita no primeiro ano de governo sem consultar aliados. Dois secretários caíram antes da posse. Depois, houve conflito com o Judiciário e o Ministério Público em ações para controlar a folha salarial.
¿ O governo precisa ter humildade. Administrativamente, está no rumo certo. Seria uma perda muito grande não ter rumo político ¿ diz Jerônimo Goergen, presidente do PP-RS, um dos secretários que caíram.
O deputado federal Eliseu Padilha (PMDB) defende Yeda:
¿ Ninguém rompe com práticas enraizadas sem atritos.
Yeda montou um gabinete de crise com PSDB, PP, PTB, PMDB e PPS para ajudá-la na reforma do secretariado. Os aliados querem mais parlamentares na equipe. Yeda quer que os partidos se responsabilizem, por escrito, por seus indicados, do ponto de vista ético e administrativo.
¿ Quem provocou tudo não fomos nós, mas temos a obrigação de tomar uma atitude ¿ disse a deputada Luciana Genro (PSOL), que pediu o impeachment de Yeda.