Título: Crise no governo do RS vai atingir campanha eleitoral
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 15/06/2008, O País, p. 9

Aliados de Yeda vão contra-atacar com escândalos do PT

Luiza Damé

PORTO ALEGRE. Embora nenhuma candidatura reproduza a base aliada do Palácio Piratini, a crise do governo Yeda Crusius (PSDB) deverá permear a campanha eleitoral em Porto Alegre. Os candidatos de oposição vão vincular o prefeito José Fogaça (PMDB), que concorrerá à reeleição com apoio do PDT e do PTB e está à frente na disputa, à crise. Mas aliados de Yeda pretendem reagir, lembrando o valerioduto petista para mostrar que nenhum partido está imune a práticas ilícitas no financiamento das campanhas.

O PT, que já governou a capital e o estado por muito anos, aposta na chance de voltar à prefeitura. O PSDB de Yeda está praticamente fora da disputa: o pré-candidato Nelson Marchezan Jr. nem aparece nas pesquisas. Mas os escândalos do governo Lula devem desfilar pelos palanques da eleição em Porto Alegre se os petistas atacarem os aliados de Yeda.

- Normalmente, nas eleições municipais, o que predomina são temas locais. Por isso, não acredito que isso (a crise) vai ter muito impacto, mesmo porque todos os partidos carregam as suas mazelas. Se atacam com os problemas do governo Yeda, o contra-ataque vai com mensalão, cartão corporativo, venda da Varig. No final, jogo termina empatado - disse o deputado federal Nelson Proença (PPS).

O partido de Proença, que participa do governo Yeda, deverá indicar o vice na chapa da deputada Manuela D"Ávila (PCdoB) nas eleições municipais. O escolhido na convenção desta segunda-feira deve ser o deputado estadual Berfran Rosado, que chegou a ser indicado para o secretariado de Yeda, mas não assumiu por ser contra o aumento de impostos.

- É evidente que haverá reflexo nas eleições. Tudo isso indigna as pessoas. Aí temos dois caminhos: a descrença no processo eleitoral ou a busca de alternativas novas nas idéias e na forma de fazer política. Espero que isso resulte em algo positivo para a cidade - diz Manuela, descartando, porém, que o apoio do PPS vincule sua candidatura ao governo Yeda.

Com telhado de vidro por causa do valerioduto - esquema montado pelo publicitário Marcos Valério para financiar campanhas do PT -, os petistas são cautelosos em relação ao uso da crise estadual na campanha municipal. Ex-prefeito de Porto Alegre, o deputado estadual Raul Pont (PT) diz que o problema vai ter reflexo na eleição na capital, mas que "isso não resolverá a disputa". O PT terá uma chapa puro-sangue em Porto Alegre, com a deputada federal Maria do Rosário.

- Os partidos aliados da governadora terão um desgate junto à população, mas essa crise não é boa para ninguém. Não é boa para a política gaúcha nem para o processo eleitoral. Eu não comemoro - afirmou a pré-candidata petista.

Oposição tanto ao governo federal como ao estadual, a deputada Luciana Genro (PSOL), também candidata à prefeitura, promete abordar denúncias de corrupção contra petistas, tucanos e seus aliados. Ela disse que a corrupção não será o tema central de sua campanha, mas estará nos debates para mostrar que é "a única candidata sem vínculo com desvios éticos nas duas esferas de governo".

O candidato do DEM, deputado federal Onyx Lorenzoni, que poderia ser poupado, terá o vice do PP - partido envolvido no mensalão e no esquema de corrupção do Detran gaúcho.

- Vamos fazer uma campanha discutindo os problemas da cidade, mas vamos mostrar todo esse esquema e que eles vão levar para a prefeitura toda uma prática de desvios éticos.

Mesmo com candidatos já definidos, a disputa em Porto Alegre não aponta um favorito. Segundo a pesquisa do Instituto Methodus, divulgada na última segunda-feira, 72,5% dos entrevistados responderam não saber em quem votariam se a eleição fosse agora. Na pesquisa estimulada, Fogaça está na frente, com 27,9%, seguido de Maria do Rosário, 19,1%; depois vem Manuela, 11,3%; Luciana Genro, 9,2%; Onyx Lorenzoni, 8% e Paulo Odone (PPS), 7% (mas o partido se coligará ao PCdoB).