Título: Organizações proliferam em Pernambuco
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 15/06/2008, O País, p. 15

Estado, berço das Ligas Camponesas nos anos 50, tem hoje em atividade 14 grupos ligados à luta no campo

Letícia Lins

POMBOS, PE. Palco do surgimento das Ligas Camponesas, em 1955, Pernambuco se mantém fiel ao lema "reforma agrária na lei ou na marra", cunhado pelo fundador e líder das ligas, o ex-deputado Francisco Julião. Os movimentos sociais ligados à luta no campo são hoje 14 em todo o estado - e o MST é apenas um deles. Mudando constantemente de nomes e líderes, espalham-se pelos estados vizinhos, desaparecem por uns tempos, reaparecem depois.

Um dos mais fortes é a antiga OLC (Organização de Libertação do Campo), que funcionou por dois anos em Pernambuco e realizou 40 ocupações, mas sumiu. Depois foi incorporada pela Fetraf (Federação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar), hoje um dos movimentos que mais ocupam propriedades no estado. A Fetraf funciona em 22 estados. Em Pernambuco, comanda 70 acampamentos, dos quais 26 já se tornaram assentamentos.

Alguns movimentos só existem no estado, como o Mtrub (Movimento dos Trabalhadores Rurais e Urbanos do Brasil). Para o chefe da Divisão de Obtenção de Terras e de Implantação de Projetos de Assentamento do Incra, Carlos Eduardo Costa Lopes, a efervescência e a quantidade desses movimentos constituem um retrato da questão agrária no estado, considerado pelas autoridades do Ministério do Desenvolvimento Agrário como de tensão social.

- A demanda social contribui para pressionar o governo e apressar a execução da reforma agrária. Esse é o lado positivo. O negativo é que a pulverização dificulta o planejamento. Para nós, talvez o melhor fosse um número menor de movimentos com maior representatividade - diz Lopes.

O Incra calcula que existem hoje no estado 21 mil famílias acampadas, cerca de 105 mil pessoas.