Título: PF analisa vídeo que envolve Bejani e não descarta investigar Dirceu
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Fonte: O Globo, 14/06/2008, O País, p. 4

Ministro das Cidades nega interferência do ex-chefe da Casa Civil para liberar verbas

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. As imagens do prefeito de Juiz de Fora, Alberto Bejani (PTB), combinando o recebimento de propina, divulgadas no site da revista "Época", é uma das peças analisadas pela Polícia Federal nas investigações da Operação Pasárgada. No vídeo, gravado em 2006, Bejani diz que teria um encontro com o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, em Belo Horizonte, no dia 10 de maio, data em que, de fato, Dirceu esteve na capital mineira, num evento para estudantes da PUC.

Na gravação, o prefeito citou um convênio de R$70 milhões, que daria, segundo Bejani, uma comissão de R$7 milhões. O projeto apresentado seria o de despoluição do Rio Paraibuna, que corta Juiz de Fora. Do valor citado, o município recebeu até agora R$1 milhão.

O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal em Minas Gerais, Alessandro Moretti, informou que a citação específica do prefeito sobre o ex-ministro não é objeto isolado de investigação, mas todo o material apreendido, inclusive o vídeo.

- Esta questão específica não é investigada neste momento. O que não quer dizer que o ex-ministro não venha a ser investigado.

Isso, segundo o delegado, vai depender dos levantamentos em curso. Ele evitou dar detalhes sobre a investigação, alegando o sigilo do inquérito.

Fortes: verba foi aprovada por critérios técnicos

O advogado de Dirceu negou à revista que haja participação do ex-ministro na fraude. Já o advogado de Bejani, Marcelo Leonardo, disse que o prefeito negou, no depoimento à Polícia Federal, o encontro com o ex-ministro, a que se refere no vídeo. Ainda segundo Leonardo, a gravação foi peça de uma armadilha montada, e que o objetivo era vender o material para um adversário político.

O ministro das Cidades, Márcio Fortes, negou ontem qualquer interferência do ex-chefe da Casa Civil na aprovação de um contrato de R$70 milhões para obras de saneamento em Juiz de Fora. Em seu blog, o ex-ministro disse não ter se encontrado com o prefeito para tratar do assunto, criticou a imprensa e se declarou vítima de uma "acusação infame e vil".

Por meio de sua assessoria, Fortes afirmou que o repasse de verbas da Caixa Econômica Federal para obras de saneamento em Juiz de Fora foi aprovado segundo critérios técnicos do programa Saneamento para Todos. Ele disse não ter sido procurado por Dirceu para tratar do caso.

De acordo com documentos apresentados pelo Ministério das Cidades, a proposta do município mineiro foi aprovada em seleção divulgada no site da pasta, em 22 de abril de 2006, e homologada pelo ministro em ofício de 8 de maio do mesmo ano - dois dias antes do suposto encontro entre Bejani e Dirceu em Belo Horizonte. O contrato foi autorizado em 15 de maio no Diário Oficial da União. No mesmo ato em que aprovou o repasse para Juiz de Fora, o ministro deu sinal verde a outras obras de esgotamento sanitário em mais 51 municípios.

O ministério informou que o projeto de Juiz de Fora teria recebido nota 9 na avaliação dos técnicos da pasta que selecionam os participantes do Saneamento para Todos, mas não apresentou cópia do termo de habilitação entregue pelo município para se candidatar ao repasse. Ainda segundo a pasta, a Caixa liberou apenas 4% da verba prevista, e as obras estariam atrasadas em 21 dias. A Caixa também negou irregularidades no contrato.

Dirceu diz se sentir em situação kafkiana

Em nota publicada em seu blog, Dirceu se declarou indignado com "mais uma leviandade de certos órgãos de imprensa". O ex-ministro disse se sentir numa "situação kafkiana" e protestou contra o vazamento de informações da Polícia Federal.

Dirceu também comentou o vídeo apreendido pela PF em que Bejani diz que o encontraria para tratar da liberação de R$70 milhões para o município. No vídeo, o prefeito afirma: "Eu tenho uma reunião com José Dirceu três horas em Belo Horizonte. Tô liberando setenta milhões. Setenta milhões! "Cê" sabe quanto que dá isso? Sete milhões de comissão". O ex-ministro negou relação entre a fala e o repasse aprovado pelo ministério: "Na gravação, nada liga o meu nome ao contrato e muito menos à propina", escreveu, criticando a "Época" e O GLOBO.

O presidente do Diretório Central dos Estudantes da PUC-MG, Henrique Lucas, anfitrião de José Dirceu, convidado para falar sobre "Mídia e a Crise", no dia 10 de maio de 2006, em Belo Horizonte, afirmou ter pego o ex-ministro no aeroporto, de manhã. Henrique Lucas diz ter passado toda a manhã com Dirceu, e ainda tê-lo deixado no aeroporto para voltar a São Paulo, no início da tarde.

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