Título: No meio do caminho
Autor: Thome, Débora
Fonte: O Globo, 14/06/2008, Economia, p. 30
Panorama Econômico :: Débora Thome
No meio do caminho
Não há dúvidas de que, num momento em que o mundo passa a comer mais e melhor, o Brasil, como grande produtor de alimentos, aumenta ainda mais suas chances no comércio internacional. Mas há um risco já anunciado: a rede de transporte do país não está preparada para grandes aumentos na produção. Parte da soja periga ficar no campo; do álcool, nas usinas.
- O Brasil tem uma vocação para commodities que não pode, nem deve, ser abandonada. Mas precisa ter estrutura logística e fazer com que ela seja menos cara. A soja aqui, para chegar ao porto, custa muito mais que nos Estados Unidos - diz o professor Manoel Reis, coordenador do Centro de Excelência em Logística da FGV-EAESP.
Esse "muito mais" pode significar o triplo do custo. A matriz do problema do transporte brasileiro é conhecida: ele é muito concentrado em rodovias, em detrimento de mais investimentos em ferrovias e hidrovias. E pior: as rodovias também não são essa maravilha.
No Brasil, transportar pelas estradas custa, em média, o dobro de por ferrovias. Mas, como a malha ferroviária é pequena, o modal rodoviário torna-se, em vários casos, a única opção. Porém, para nossas commodities, certamente, o ideal seria uma maior utilização dos trens. Manoel Reis ressalta que "também do ponto de vista ambiental, eles são muito melhores".
Atualmente são 28 mil quilômetros de vias férreas no país, menos que na Argentina. O professor acredita que seria necessário ter mais de 50 mil quilômetros. O Plano Nacional de Logística prevê que, até 2025, as ferrovias cheguem a ser mais usadas para transportar carga que as estradas.
Hoje essa taxa até vem aumentando, mas muito devagar. Como mostra o gráfico abaixo, com o percentual de utilização dos modais, será um longo percurso para uma mudança efetiva. (Aliás, não aparece no gráfico, mas o Brasil também usa muito pouco o transporte fluvial; é apenas 1% do total.)
O resultado desse caldo tem sido um transporte lento, caro e ineficiente desde o campo até os portos. E, quando chega no porto, o problema prossegue, porque há pouca disponibilidade de navios, que estão demorando até 30 dias a serem desembarcados.
Marcelo Andrade, da Ecoflex Trading & Logística, chama a atenção também para a questão de transporte do biodiesel e do etanol:
- Muitas usinas estão buscando contratos longos com transportadoras e até mesmo investimentos em frota própria. Esta será a safra da melhor alternativa logística.
Petróleo na economia
Esta semana a Petrobras anunciou a sua 12ª refinaria, no Rio Grande do Norte. A expansão fica pronta em 2010, como a de Pernambuco. Além dessas, ainda devem ser mais uma no Maranhão e outra no Ceará.
Entre os especialistas, há quem critique a escolha dos locais, pois as refinarias ficam longe dos grandes centros produtores. Acusam a Petrobras de estar tomando uma decisão política. Quem defende diz que as refinarias levam desenvolvimento e que no Sudeste haveria restrições ambientais.
No Rio de Janeiro, o secretário de Desenvolvimento, Julio Bueno, garante que não vai brigar no estilo "a refinaria é nossa", mas defende a refinaria Premium, que pode acabar no Ceará, no estado:
- Não faz sentido não ser aqui. A distância encarece. A refinaria tem que ser perto do fornecedor e do mercado.
Economia no petróleo
A alta do petróleo está tratando de acabar com qualquer desperdício na aviação. Há oito anos, conta uma reportagem do "New York Times", o combustível equivalia a 15% do preço do bilhete aéreo nos Estados Unidos; hoje está nos 40%. O querosene é o maior dos gastos e, este ano, ele já subiu 84%. Ou seja, não tem jeito: é preciso economizar.
Qualquer diminuição no peso tem impacto no gasto com combustível. Assim, as companhias de aviação têm apelado a tudo; 100 gramas a menos já estão valendo.
Reduzir a água dos banheiros foi uma das medidas. Mas tem mais. A velocidade das aeronaves está menor e cadeiras dos passageiros e carrinhos de bebida estão sendo trocados por modelos mais leves. A bagagem excedente já vinha sendo cobrada. Por ora, até onde se sabe, o peso da comida está preservado.