Título: Exército prende outro militar homossexual
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 14/06/2008, O País, p. 12

Sargento que assumiu romance com colega de farda, este já detido, é acusado de transgressão disciplinar

Evandro Éboli

BRASÍLIA. O Exército prendeu ontem o sargento Fernando de Alcântara Figueiredo, que há duas semanas foi tema de capa da revista "Época", juntamente com o sargento Laci Marinho, no primeiro exemplo de casal homossexual declarado publicamente no Exército. Alcântara está detido numa cela do Batalhão da Guarda Presidencial, em Brasília, onde cumprirá prisão administrativa de oito dias. Laci Marinho já estava detido, na carceragem da Polícia do Exército, acusado de deserção.

Alcântara foi acusado de cometer transgressões disciplinares por ter participado de programa de entrevistas em emissora de TV sem autorização e por ter sido fotografado vestindo uniforme militar. Na capa de "Época", os dois sargentos usavam camisetas camufladas do Exército.

O processo disciplinar contra Alcântara foi aberto pelo coronel Antônio André Côrtes Marques, do Hospital Geral de Brasília, onde ele trabalhava no setor de lavanderia. Para o advogado do sargento, Marcos Rogério de Souza, os militares exageraram na aplicação da sanção. Ele explicou que é comum, nessa situação, a adoção de penas mais brandas, como advertência, repreensão e impedimento de deixar o alojamento.

- A dosagem da sanção foi exagerada, e é impossível não entendê-la como um ato de homofobia estatal - disse Souza.

Advogado diz que Alcântara se sente injustiçado

O advogado esteve ontem com Alcântara e afirmou que ele está preocupado com o que pode ocorrer, agora, com seu companheiro. Alcântara visitava Marinho durante uma hora por dia. Souza disse que Alcântara está bem, tranqüilo, mas que se sente injustiçado.

- A maior preocupação dele é o que pode ocorrer com seu companheiro, que depende de remédios controlados e pode vir a ter um surto.

Alcântara passou a semana concedendo entrevistas e participou da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Na madrugada de segunda-feira passada, ele fez um discurso no evento e um relato de todo o episódio. O sargento foi alertado por ativistas de movimentos gays para não se expor tanto, mas argumentava que essa era a única maneira de manter o seu companheiro vivo. Alcântara afirmou que Marinho iria enlouquecer na prisão. Alcântara dizia ainda que vinha sendo perseguido no trabalho.