Título: Medida não resolve o problema
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2009, Economia, p. 19

Analistas e consultores consideram mudanças na caderneta uma ação paliativa que apenas adiou a questão para governos posteriores decidirem. Para eles, será difícil manter a rentabilidade em níveis atuais

-------------------------------------------------------------------------------- Edna Simão

Euler Junior/EM/D.A Press - 18/8/06 Gustavo Loyola, economista: ¿O governo não resolveu o problema¿ A tributação da remuneração da caderneta de poupança e a possibilidade de reduzir a alíquota do Imposto de Renda (IR) dos fundos de investimentos foram consideradas por analistas e consultores como medidas paliativas para fugir da discussão principal, que é retirar o último resquício da inflação alta no país ¿ a rentabilidade fixa. Atualmente, boa parte das aplicações financeiras não consegue garantir a rentabilidade de 6% ao ano mais TR (Taxa Referencial). Para aumentar a discrepância, a poupança é livre de imposto e de taxa de administração.

Para a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, a decisão do governo só adia o debate sobre a remuneração da poupança para os próximos governos. ¿É uma medida paliativa, que resolve um problema de curto prazo do Banco Central¿, afirmou a economista. As últimas atas do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC têm enfatizado a necessidade de mudança na poupança para que não haja fuga dos investidores para caderneta, dificultando o financiamento da dívida pública pelo Tesouro Nacional.

Outro economista que não gostou da mudança na caderneta anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, foi Gustavo Loyola, da consultoria Tendências. Para ele, que já presidiu a autoridade monetária em duas ocasiões distintas, a tributação não resolve definitivamente o problema. ¿O governo não resolveu o problema e, o que é mais grave, sinalizou que é cada vez menor o espaço para a adoção de medidas técnicas, o que é algo preocupante¿, observou.

Uma solução para a poupança, segundo Loyola, seria adequar o rendimento a um ambiente de inflação baixa e taxas de juros cadentes. Na avaliação do ex-presidente do BC, o governo vai criar um problema enorme para contribuintes e para a própria Receita Federal. O Imposto de Renda sobre ativos financeiros deixou de ser tributado exclusivamente na fonte. ¿O governo recriou a declaração de ajuste e a regra de incidência é bastante complicada¿ criticou.

Segundo o consultor de finanças Marcos Crivelaro, não haverá mudança na vida do pequeno poupador. ¿O recado que o governo mandou é para que ele fique tranquilo. É como se dissesse: Não tire o seu dinheiro da poupança¿, afirmou. Para o consultor, no horizonte deste governo, não deve haver outras mudanças significativas, até porque é muito difícil de viabilizar politicamente alguma medida que prejudique os poupadores. ¿Mas no médio e longo prazos, se a Selic continuar caindo e a inflação ficar mesmo baixa, vai ser muito difícil manter a rentabilidade da poupança como está hoje.¿