Título: Temor é sentimento comum entre os poupadores
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2009, Economia, p. 19

Ione Oliveira: tranquilidade após a notícia de que apenas saldos de poupança superiores a R$ 50 mil serão tributados

As mudanças nas regras da caderneta de poupança deixaram os investidores preocupados. A desconfiança é de que o governo possa fazer novas alterações, reduzindo a rentabilidade da aplicação ou diminuindo o limite de isenção para cobrança do Imposto de Renda (IR). Desde que começaram as notícias sobre uma possível mudança na poupança, o aposentado Geraldo Dantas, 88 anos, não tem paz. Logo de início ele ficou preocupado com a possibilidade de perda do rendimento. Depois, voltou a temer que o governo fizesse alguma coisa semelhante ao confisco do Plano Collor, em março de 1990.

Dantas, que tem mais de R$ 50 mil na poupança, não gostou de saber que o dinheiro guardado vai ser tributado a partir do ano que vem. Ele não pretende ficar com os recursos parados, esperando a incidência do imposto. ¿Vou pagar a quem devo e depois gastar¿, disse. Das mudanças anunciadas pelo governo, a única que deixou Geraldo satisfeito foi saber que vai ter tempo para decidir o que fazer, uma vez que o IR só incidirá a partir de 2010. Por enquanto, ainda não sabe se, com o que sobrar dos seus compromissos, vai mudar de aplicação. ¿Vou ter que analisar a situação direitinho antes de tomar uma decisão¿, observou.

A servidora pública Ione Viotti Oliveira e nove colegas de trabalho formaram uma espécie de clube privado de investimentos. Todo ano, de fevereiro a novembro, cada uma das 10 amigas deposita R$ 120 mensais na poupança de uma delas. No final do ano, a titular da conta saca o saldo, de cerca de R$ 14 mil, e reparte entre as associadas. ¿Temos essa obrigação todo mês. Se você se planeja para investir numa poupança própria, acaba não fazendo isso e gastando o dinheiro com outros compromissos¿, explica Ione. A prática já foi repetida por quatro anos seguidos.

Segundo Ione, as amigas estavam muito preocupadas com as notícias desencontradas sobre as alterações nas regras da poupança, que não foram bem recebidas pela população (leia Povo Fala na página 24). ¿Estávamos ansiosas com tudo isso. Até olhamos outros investimentos, mas optamos pela poupança porque podemos fazer pequenos depósitos e porque era justamente a aplicação em que não se pagava imposto. Ficamos com medo de que o governo fosse diminuir a rentabilidade ou taxar qualquer saldo da poupança, independentemente do valor¿, disse. Ela achou ¿tranquilizadora¿ a notícia de que só saldos superiores a R$ 50 mil pagarão IR.

Ainda assim, desconfia de que a equipe econômica pode aproveitar a medida como uma porta aberta para arrecadar mais tributos. ¿Isso pode ser só o começo de algo maior. Quem garante que esse limite de isenção não será reduzido? Não dá para confiar. O governo vive mudando de ideia para cobrar mais impostos¿, afirmou.