Título: Todos dizem que cumpriam ordens
Autor: Braga, Ronaldo; Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 18/06/2008, Rio, p. 16

A GUERRA DO RIO: Delegado ouve mais oito envolvidos no Batalhão de Polícia do Exército

Militares alegam que obedeciam ao tenente. Advogado do oficial afirma que ele não foi o mentor

Ronaldo Braga e Sérgio Ramalho

Um militar que impediu a fuga de um dos três jovens entregues sábado a traficantes do Morro da Mineira disse em depoimento ter cumprido ordem do tenente Vinicius Ghidetti de Moraes Andrade, de 25 anos. O soldado do Exército Fabiano Eloi dos Santos, de 22 anos, confirmou ter imobilizado um dos rapazes quando o trio era retirado do caminhão para ser deixado com os bandidos. O respeito à hierarquia militar também foi usado como justificativa por quatro militares ouvidos ontem pelo delegado Ricardo Dominguez, da 4ª DP (Central), no Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca.

Dos 11 militares presos por envolvimento no episódio, três prestaram depoimento no domingo. Os outros depuseram ontem e hoje de madrugada, entre eles o tenente Vinicius, que, conforme O GLOBO noticiou, admitiu ter comandado a entrega dos rapazes a traficantes.

No depoimento, o oficial atribuiu ao sargento Leandro Maia Bueno a responsabilidade pelo contato com os traficantes da Mineira. "Observamos um grupo de pessoas armadas ao fundo da favela. O sargento Maia foi na direção dessas a pé, com as mão levantadas e acenando, tentando demonstrar que estava em paz. Maia retornou ao caminhão dizendo que havia falado aos traficantes que era apenas para dar uma surra nos três", relatou o tenente. A polícia e o serviço reservado do Exército (E2) investigam a informação de que Maia teria recebido ajuda de um PM para entrar em contato com os bandidos.

Segundo o depoimento, o oficial mandou que os três jovens fossem colocados para fora do caminhão. No momento do desembarque, um dos rapazes tentou fugir. "Ele foi agarrado pelo soldado Fabiano, que somente subiu no caminhão depois de entregar o rapaz aos traficantes", disse o tenente Vinicius, indiciado, juntamente com os outros dez militares, por co-autoria no triplo homicídio.

Os advogados Marcos Frazão e Rafael Vianna, que representam os militares Bruno Eduardo de Freitas, Renato Alves, Sidney Barros e Rafael Cunha da Costa alegaram que seus clientes, que terminaram de depor durante a madrugada, desconheciam o objetivo da missão. Eles disseram acreditar que liberariam os três jovens nas imediações do Sambódromo. Os advogados afirmaram ainda que os quatro não conhecem bem o Rio de Janeiro e, por isso, não sabiam, ao chegar ao Morro da Mineira, que o local era perigoso e dominado por uma facção rival à da Providência.

Delegado pedirá quebra de sigilo telefônico de militares

Ricardo Dominguez pretende desmembrar o inquérito, instaurando nova investigação para verificar se há ligação de algum dos militares com o tráfico da Mineira. O delegado solicitou a quebra do sigilo telefônico dos militares para saber se houve contato com os bandidos antes da entrega dos jovens.

Para os advogados Luís Cardoso e João Carlos Figueiredo Rocha, que defendem Vinicius, o tenente não foi mentor da ação. Advogados de outros militares presos também defenderam seus clientes, dizendo que eles cumpriram ordens.