Título: Planos de manejo em xeque
Autor: Albuquerque, Carlos
Fonte: O Globo, 18/06/2008, O Globo, p. 33

Estudo na Amazônia revela que floresta precisa de mais tempo para se regenerar

Carlos Albuquerque

Opitboy Carlos Maçaranduba, personagem do coletivo Casseta & Planeta, não entenderia, mas as sutilezas em torno da árvore que lhe dá o nome são capazes de ajudar na preservação e exploração sustentável da Floresta Amazônica. É o que revela um estudo feito por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que analisaram a estrutura genética da planta, considerada um dos modelos-chave para a compreensão da dinâmica da floresta.

O trabalho - que faz parte do projeto Dendrogene, que desde 2000 estuda o impacto da exploração florestal na biodiversidade da Amazônia - mostrou que para recuperar a sua área original, a Manilkara huberi, alvo crescente da indústria madeireira, necessita de 140 anos, bem mais do que os 30 anos recomendados pelo Ministério do Meio Ambiente para programas de manejo. A análise lança uma sombra sobre os planos atuais de sustentabilidade da floresta.

- Embora ainda não esteja ameaçada de extinção, essa árvore amazônica é intensamente explorada na região por causa da sua madeira resistente e sua alta densidade - explica a pesquisadora Vânia Azevedo, que escreveu um artigo sobre o trabalho, agraciado com o prêmio "Stephen J. O" Brien Award for 2008", da Universidade de Oxford, Inglaterra. - Esses são alguns dos motivos que fazem com que a maçaranduba seja considerada uma espécie-modelo para representar a diversidade da floresta.

Como explica a pesquisadora, o manejo da região é feito de forma geral, considerando a floresta como um todo. O estudo mostra que esse padrão pode não ser o ideal.

- A regra de corte considera a floresta como um todo, mas a floresta é um ambiente complexo. - conta Vânia, que fez a pesquisa ao lado dos cientistas Milton Kanashiro, Ana Yamaguishi Ciampi e Dario Grattapaglia. - Ainda faltam mais estudos sobre a dinâmica das florestas, mas tudo indica que as práticas atuais precisam ser revistas e que é necessário elaborar um modelo de exploração mais criterioso com base na diversidade das espécies existentes.

Diversidade que foi adotada pelo pesquisadores da Embrapa. Durante o trabalho, além da maçaranduba, foram estudadas outras cinco espécies.

- Foram escolhidas espécies com características diferentes, como polinizadores, taxas de crescimento e forma de reprodução. - conta Vânia. - A idéia era representar ao máximo a biodiversidade da floresta

Pior cenário é o permitido por lei

No caso da maçaranduba, foram levantadas diversas informações sobre a biologia da espécie, inclusive dados genéticos. Depois, esse material foi enviado para um programa de simulação chamado Eco-gene.

- Juntamos todos os dados que foram obtidos nos estudos de ecologia. Quanto tempo a espécie está com flor, qual é a sua taxa de crescimento, qual é o fluxo de pólen etc. A partir dessas informações, criamos uma população artificial e simulamos a floresta ao longo de vários anos.

Dessa forma, explica a pesquisadora, foi possível criar diversos cenários sobre o impacto da exploração na floresta.

- Curiosamente, o pior cenário foi o atual, o permitido pela lei, de 30 anos de recuperação. Em um dos cenários, fizemos um corte e deixamos a floresta se regenerar para ver quanto tempo ela levaria para se tornar novamente uma mata original. E o resultado mostrou que a maçaranduba leva cerca de 140 anos para voltar a ser o que era.

Outra revelação do estudo - no qual foram usadas imensas torres para estudar de perto a biologia das árvores - foi que o ciclo de pólen na floresta muitas vezes não chega a 50 metros.

- Isso significa que a diversidade de algumas espécies, como a maçaranduba, não está distribuído de forma heterogênea. Se você corta a floresta e deixa uma árvore muito longe da outra, isso pode atrapalhar a regeneração. Então, o corte não pode ser desordenado. Ele tem que ser criterioso.