Título: GE fará nova geração de locomotiva no país
Autor: Jorge, Danilo
Fonte: O Globo, 17/06/2008, Empresas, p. B7

Fontana, presidente da MRS: investimento de US$ 375 milhões na compra de 150 máquinas zero-quilômetro da GE

A GE Transportation, braço do grupo americano GE para o setor de transporte, prepara o lançamento no Brasil do segundo modelo da família de locomotivas pesadas, que passaram a ser produzidas recentemente nas linhas de montagem de sua fábrica em Contagem (MG). Trata-se da AC-44 I, que conta com motor de tração em corrente alternada, a ser entregue, em outubro, à MRS Logística. É a primeira máquina do tipo produzida pela companhia fora de suas unidades industriais da América do Norte e será, também, a primeira a rodar nos trilhos brasileiros.

"É mais um passo que estamos dando para transformar o Brasil em um pólo produtor de locomotivas de classe mundial", afirmou Rafael Santana, presidente da GE Transportation South América (Gevisa). O modelo tem capacidade de tração 20% superior às máquinas com motor em corrente contínua - como a que foi lançada no final de maio pela empresa (C 44 EMI), marcando o início da produção nacional de locomotivas pesadas. O novo modelo, dessa forma, apresenta melhor desempenho no transporte de longo curso de cargas pesadas.

"Um comboio de 132 vagões exige quatro locomotivas com tração em corrente contínua, número que cai para três com o modelo em corrente alternada", exemplifica Santana. A primeira AC-44 I será entregue à MRS Logística em outubro, mas a empresa encomendou um lote de 65 máquinas, além de mais 85 C 44 EMI, totalizando 150 novas locomotivas pesadas. Desse total, 55 locomotivas já estão nos pátios da MRS e o restante deve ser entregue até o início de 2009.

"Não tínhamos encomendado ainda locomotivas com motor tracionado em corrente alternada porque elas não passavam nos túneis da nossa rede. Mas a Gevisa fez a readequação no tamanho das máquinas, abrindo a possibilidade de usar o novo modelo, que tem capacidade e aderência superiores, resultando em retorno maior do investimento", afirma Júlio Fontana Neto, presidente da MRS Logística.

A ferrovia, que tem como acionistas controladores CSN, Gerdau, Usiminas e Vale do Rio Doce, que controla 1.643 quilômetros de trilhos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Na aquisição de locomotivas, a empresa investe cerca de US$ 375 milhões. Parte dos equipamentos será importada da fábrica da GE em Erie, na Pennsylvania (EUA).

O início da produção do novo modelo faz parte do plano da Gevisa de elevar o índice de nacionalização da sua linha de montagem. No segmento de locomotivas pesadas, esse índice é atualmente de 12% e a meta é alcançar patamar equivalente ao atingido na fabricação de máquinas de pequeno e médio portes, de 62%.

Para isso, explica Santana, a Gevisa vem habilitando fornecedores, por meio do treinamento de pessoal e transferência tecnológica. Estão atualmente em fase de preparação quatro empresas: a Tecnometal e a Clima, que produzem cabines; a Delp, que fornece plataformas, e a MWL, fabricante de rodas e eixos. "Quando estiverem habilitadas, essas empresas poderão vir a ser fornecedores globais do grupo", diz Marc Flammia, diretor de produtos na área de locomotivas da Gevisa.

Das 30 locomotivas pesadas que a Gevisa fabricará neste ano em Contagem, oito serão do modelo de tração em corrente alternada. Até dezembro, a empresa espera exportar cerca de 10 máquinas, sendo outras 20 absorvidas pelos clientes locais - além da MRS, as ferrovias da Vale. "Estamos iniciando negociações com a ALL, para fornecer locomotivas com configurações específicas", afirma Bruno Serapiao, gerente de marketing regional para a América Latina.

No suporte às vendas, a Gevisa conta com linhas de financiamentos aos seus clientes oferecidas pelo BNDES, por meio do Finame e crédito aos importadores. "O volume de recursos dependerá da demanda dos tomadores, mas o apoio financeiro do banco dará suporte à nossa competitividade e estimulará o modal ferroviário", diz Fábio Schettino, diretor financeiro.