Título: Ex-diretor sai criticando gestão na TV Brasil
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 19/06/2008, O País, p. 13

Presidência da emissora reconhece haver dificuldades mas rebate argumentos de Senna

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Ex-diretor-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o cineasta Orlando Senna criticou ontem a TV Brasil, criada pelo presidente Lula ano passado. Segundo Senna, a TV Brasil, concebida como uma alternativa às TVs comerciais, é burocrática e engessa a produção de determinados programas. Senna disse ainda que o modelo de gestão adotado pelo governo concentra poderes excessivos na presidência da emissora.

O cineasta deixou a diretoria da TV Brasil na terça-feira, em meio a divergências com integrantes da cúpula da emissora. Senna se queixa do esvaziamento de poder da diretoria-geral, cargo que ocupou por oito meses por indicação do ministro da Cultura, Gilberto Gil.

- Saí porque não estou de acordo com o modelo de gestão da empresa. É um modelo burocrático, que tende a engessar as instâncias operacionais. E isso não é bom para uma empresa que tem que produzir conteúdos audiovisuais, que tem que ter uma dinâmica muito forte.

Segundo o ex-diretor, o modelo de administração limita o campo de atuação das demais instâncias decisórias da empresa. Ele nega, no entanto, que tenha havido interferência política na administração da empresa. Senna disse que, se tivesse havido ingerência externa, já teria deixado a emissora há muito tempo.

- A concentração de poder numa só pessoa engessa todas as instâncias operacionais, que têm que fazer TV todo dia - disse.

A presidente da TV, Tereza Cruvinel, reconheceu parte das dificuldades apontadas por Senna. Ela argumenta que a EBC é uma empresa pública e, por isso, obrigada a seguir regras rígidas no controle e transparência dos gastos, e disse que esses limites já eram conhecidos.

- A EBC é uma empresa nascente. Ainda não dispõe de todos os instrumentos que podem tornar a gestão mais ágil como, por exemplo, o regimento simplificado de compras - afirmou.

Tereza negou que tenha poderes excessivos. Segundo ela, o estatuto da empresa garante ao diretor-geral as tarefas operacionais. As normas seriam suficientes para Senna tomar as decisões adequadas ao bom andamento da programação.