Título: Favela vira uma passarela para políticos
Autor: Cássia, Cristiane de
Fonte: O Globo, 19/06/2008, Rio, p. 15

A GUERRA DO RIO: Vereadores ouvem na comunidade queixas de mães de vítimas, criticando politização do caso

Deputado federal também pede desculpas, dizendo que lei sobre Exército está sem regulamentação há dez anos

Cristiane de Cássia

Depois do Exército e do Ministério da Defesa, foi a vez de um representante do Congresso usar o Morro da Providência como passarela. O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), subiu a favela ontem de manhã e, assim como o ministro Nelson Jobim, pediu desculpas às mães dos três jovens mortos. Ele disse acreditar que, se a lei que prevê o uso das Forças Armadas para garantia da lei e da ordem estivesse regulamentada, o crime poderia ter sido evitado.

- O Congresso tem desculpas a pedir porque, passados dez anos, não regulamentamos a legislação. Sem essa baliza legal, há utilização pontual e muitas vezes política das Forças Armadas. Se tivéssemos regulamentado a lei, talvez essa tragédia não tivesse acontecido - disse Jungmann.

A iniciativa de usar a Providência como passarela não deu muito certo para sete vereadores. Uma reunião entre eles e moradores quase terminou em bate-boca ontem de manhã. Diante dos pedidos da comunidade para a retirada do Exército, a vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB) disse que um representante do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), autor do projeto Cimento Social, deveria se pronunciar: já que ele teria levado o Exército até a comunidade, então deveria retirá-lo.

Uma confusão se formou e a vereadora Lílian Sá (PR), cujo partido vai se coligar com o de Crivella para a candidatura dele a prefeito, disse que o debate estava se tornando político. As mães das vítimas também reclamaram.

- Ninguém vai fazer política com um homicídio, com a morte do meu filho - disse Lílian Gonzaga, mãe de um dos jovens.

A reunião acabou. Os vereadores vão criar uma comissão para acompanhar o caso.