Título: Delegado pedirá prisão preventiva de acusados
Autor: Nunes, Marcos; Martins, Jorge
Fonte: O Globo, 19/06/2008, Rio, p. 17

A GUERRA DO RIO: Segundo soldado, tenente disse a traficante da Mineira que estava dando "um presentinho"

Inquérito deve ficar pronto hoje. Ministério Público Militar também quer que quatro dos 11 envolvidos sejam detidos

Marcos Nunes* e Jorge Martins

O delegado da 4ª DP (Central do Brasil), Ricardo Dominguez, que investiga o envolvimento de 11 militares do Exército no seqüestro de três rapazes do Morro da Providência, disse ontem que o inquérito deve ser concluído hoje e que vai pedir a prisão preventiva de alguns dos acusados. O Ministério Público Militar, em Brasília, pediu a prisão preventiva de quatro dos 11 militares envolvidos no caso.

A promotora Evelise Covas Valle foi favorável ao pedido do capitão Peçanha, responsável pelo inquérito instaurado pelo Exército. Os quatro são o segundo-tenente Vinicius Ghidetti de Moraes Andrade, de 25 anos; o terceiro-sargento Leandro Maia Bueno, de 29; o soldado José Carlos Rodrigues de Araújo, de 19; e Fabiano, um outro soldado. Eles já estão detidos. Hoje de manhã, o juiz auditor do MPM deverá decidir sobre o pedido de prisão preventiva.

De acordo com depoimento do soldado José Ricardo Rodrigues ao delegado Ricardo Dominguez, os três jovens da Providência foram usados pelo tenente Vinicius como um "presentinho" para os traficantes do Morro da Mineira. Segundo o depoimento, logo após o tenente e o sargento Leandro Maia Bueno descerem de um caminhão do Exército, na Mineira, o oficial travou um diálogo amistoso com um bandido armado. De acordo com o soldado, o tenente disse a frase "trouxe um presentinho pra vocês", ao se dirigir ao criminoso. Este, por sua vez, perguntou: "É alemão?". E o oficial respondeu: "É da Provi", referindo-se ao Morro da Providência. Ainda segundo o depoimento, ao pressentir que seriam assassinados, os três jovens gritaram a frase: "pelo amor de Deus, eles vão nos matar".

Ontem, o delegado José Afonso Mota, adjunto da 4ª DP, interrogou o capitão Ferrari, que estava de plantão na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar no sábado. O oficial confirmou que mandou o tenente Vinicius liberar os três jovens, porque não viu motivos para que eles fossem presos.

O delegado Ricardo Dominguez terminou de ouvir os militares, no Batalhão de Polícia do Exército (PE), na Tijuca, por volta de 1h30m de ontem. Segundo ele, um dos soldados contou que o tenente Ghidetti, após deixar o quartel para onde os jovens inicialmente foram levados, disse que estava "cagando para o capitão" e, por isso, seguiria com as vítimas para a Mineira, a fim de lhes dar um corretivo. Dominguez acrescentou que somente a quebra do sigilo telefônico - cujo pedido já foi aceito pela Justiça - poderá provar se houve contato prévio dos militares com os bandidos da Mineira.