Título: Guantánamo: Fidel critica opinião de Caetano
Autor:
Fonte: O Globo, 19/06/2008, O Globo, p. 36

Para o cubano, artista "pediu perdão ao império" ao falar sobre a canção "Baía de Guantánamo"

HAVANA. O líder cubano Fidel Castro criticou declarações do músico brasileiro Caetano Veloso num livro cujo conteúdo foi divulgado ontem. Fidel interpretou como um pedido de perdão aos Estados Unidos comentários de Caetano sobre sua música "Baía de Guantánamo", parte do repertório do novo disco do compositor.

Para Fidel, a declaração foi uma "prova da confusão e do engano semeados pelo imperialismo". No texto intitulado "Fidel, Bolívia e algo mais", o líder cubano critica o fato de Caetano ter se dito "100% mais" do lado dos Estados Unidos do que de Cuba em matéria de direitos humanos, em entrevista publicada pela "Folha de S. Paulo" em 26 de maio.

"Se eu fosse um tipo de pessoa de esquerda, pró-Cuba, anti-Estados Unidos, não sentiria decepção alguma pelo que ocorreu nas prisões de Guantánamo", segundo reproduz Fidel em seu prefácio a partir das declarações publicadas no jornal brasileiro.

"Em duas palavras: o músico brasileiro pediu perdão ao império por criticar as atrocidades cometidas naquela base naval em território ocupado de Cuba", disse Fidel, de 81 anos, que passou a se dedicar a escrever depois de ter se afastado do governo.

Os versos da música "Baía de Guantánamo" falam sobre a contradição de os Estados Unidos, ferrenhos defensores dos direitos humanos dentro de seu território, ignorarem esses princípios em sua base militar na ilha.

"O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar", diz a letra.

"É uma frase que dá conta do mal-estar que senti diante daquela situação irregular quanto aos direitos humanos, produzida pelos americanos na ilha de Cuba", disse ele na entrevista lida por Fidel, acrescentando:

"Se você falar em questão de como são observados os direitos humanos e as questões de liberdade e respeito aos homens, sou 100% mais EUA do que Cuba. E eles, os americanos, os defensores das sociedades abertas, apresentam muitas vezes o caso de Cuba, como um lugar onde não se respeitam as liberdades. Que aconteça isso na base de Guantánamo, sendo que são os americanos que estão desrespeitando os direitos humanos, me abala, me provoca mal-estar. Justamente porque eu sou neste ponto do lado dos americanos".

Ontem à noite, Caetano encerrou sua turnê de shows no Vivo Rio. Depois de cantar Baía de Guantánamo, fez uma aparente referência à decisão da Suprema Corte dos EUA, da semana passada, de que prisioneiros da base podem recorrer a tribunais civis.

- Quero agradecer a Corte Suprema dos Estados Unidos da América por ter prestado atenção nesta canção - disse.

Colaborou: Eduardo Fradkin