Título: Política no caso Varig
Autor: José Carlos Tedesco
Fonte: O Globo, 20/06/2008, Opinião, p. 7

A novidade do caso Varig é o retorno de sua "politização", um dos motivos que a levaram ao estado em que se encontrava quando entrou em processo de recuperação judicial, em junho de 2005.

A empresa foi parar na Justiça por uma série de adversidades que conhecemos: má gestão, compromissos políticos de uma empresa de bandeira, crise mundial da aviação e política de preços tarifários do governo, entre outras. A imprensa já dava a Varig como falida. Todos estavam certos de que ela desapareceria. Até o ministro do Turismo na época, Walfrido Mares Guia, garantia que o governo já tinha um plano B para substituir a voadora. Falou isso para os líderes do chamado trade turístico e para representantes do Poder Judiciário.

A Varig, depois de um esforço enorme do Poder Judiciário do Rio de Janeiro, foi vendida em leilão realizado em julho de 2006 a quem ofereceu o melhor preço, pelo valor de US$24 milhões, mas assumindo dívidas e obrigações em valores superiores a U$110 milhões. Na ocasião, estava completamente sucateada. Tinha dois aviões, passagens vendidas a serem honradas e dívidas trabalhistas e não dispunha de crédito na praça. Nove meses depois, com nova gestão, foi vendida por cerca de US$320 milhões para o grupo da Gol, após vários investimentos e em condições financeiras muito melhores e com mais de 15 aviões.

Agora, diante de fatos novos que a imprensa noticia: escândalos, disputas entre interesses - uma guerra que já existia na esfera do governo federal e já atrapalhou bastante -, estão confundindo os poderes e o trabalho. No entanto, os fatos que estão sendo divulgados não constam nos autos do juiz Ayoub, até porque fogem da competência e da esfera dele.

Falta responsabilidade, competência e serenidade, atributos que o juiz fluminense demonstrou ter em momentos críticos do processo. O próprio presidente da República, que no passado disse que não ajudaria a Varig, já manifestou o desejo de criar uma estatal do setor, contrariando o que havia dito no passado recente. A lógica, infelizmente, não tem sido uma característica dos governos brasileiros nos últimos tempos. Contudo, usando a nova Lei de Recuperação de Empresas, que poderia ter salvado muitas empresas brasileiras que já desapareceram, Ayoub deu viabilidade e transparência judicial à mudança de controle da Varig.

Agora, por um interesse político, estão misturando estratégias e interesses obscuros com decisões de pessoas sérias, que trabalharam para o melhor da Varig e do Brasil. Ao contrário do que alguns queriam, lutou-se contra a alienação de um patrimônio nacional, indispensável à gestão autônoma de nossa economia e que será irrecuperável para a nação.

JOSÉ CARLOS TEDESCO é jornalista.