Título: Executiva do PT contraria Lula e mantém Molon
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 20/06/2008, O País, p. 8

Partido insiste também no veto à aliança com os tucanos em torno do candidato do PSB em Belo Horizonte.

BRASÍLIA. Pouco depois de o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ter atendido ao apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abrindo mão de ser candidato a prefeito de São Paulo em favor da petista Marta Suplicy, a executiva nacional do PT referendou, no início da noite de ontem, a candidatura do deputado estadual Alessandro Molon (PT) à prefeitura do Rio. Lula pretendia que Molon desistisse da disputa para apoiar Jandira Feghali (PCdoB) e pediu que o comando nacional petista tentasse costurar esse acordo.

O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, justificou que o processo no Rio já estava bem adiantado e não seria mais possível o recuo. Antes da decisão, ele e os demais integrantes da executiva receberam Molon, que decidiu ir a Brasília defender sua candidatura. Para Berzoini, no caso do Rio, o acordo com aliados virá no segundo turno.

- O ideal seria uma troca de apoio mais amplo. Mas não foi possível, principalmente pelo adiantado do processo. Mas vamos manter uma relação amistosa para, no segundo turno, ter um bom ambiente para composições. No Rio já existe um encaminhamento favorável à candidatura do Molon. Reverter isso, seria um prejuízo para o partido, por mais que se entenda o esforço do presidente Lula - afirmou Berzoini.

O comando do partido também manteve o veto à aliança do PT com o PSDB em torno do nome de Márcio Lacerda, do PSB. As duas decisões contrariaram pedido de Lula para que o PT e os partidos do chamado Bloquinho (PCdoB, PSB e PDT) chegassem a um entendimento nas grandes capitais.

A decisão final sobre a candidatura de Molon será na convenção municipal deste fim de semana. Ontem, ao sair da reunião, ele descartou a possibilidade de sair da disputa em favor do PCdoB. Questionado sobre a pressão de Lula, foi irônico:

- Essa pergunta deve ser feita a quem participou da reunião. Está fora de cogitação qualquer possibilidade de a nossa candidatura ser retirada.

Mas o petista evitou falar sobre o que faria se recebesse pedido de Lula para desistir:

- Não falo em hipótese, só falo em realidade.

Apesar de esperada, a decisão de ontem do PT aumentou o desconforto entre os aliados, especialmente no PCdoB. À noite, o deputado Aldo Rebelo não quis comentar a decisão da executiva nacional do PT de ratificar o nome de Molon. Ele já havia sinalizado que esperava reciprocidade do partido depois do seu gesto em São Paulo.

- Nós esperamos que esse gesto, em São Paulo, sensibilize o PT para que faça gestos semelhantes no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte - disse Aldo.

Acordo permite a Lula subir no palanque de Marta

Integrantes do Bloquinho que ajudaram na definição da aliança em São Paulo diziam ontem que, além do fim do isolamento de Marta, o acordo vai permitir a Lula subir no palanque da petista, o que não seria possível com a candidatura de Aldo. Mas isso não sensibilizou o PT.

O comando nacional do PT manteve o veto à aliança com o PSDB na capital mineira. O novo pedido fora encaminhado pelo PT municipal após Lula ter condenado, em entrevista ao "Jornal do Brasil", o gesto da direção nacional de barrar o apoio do governador Aécio Neves (PSDB-MG) ao candidato do PSB, que terá um petista como vice.

A executiva negou ainda pedido de intervenção no diretório municipal feito por um grupo de integrantes do PT de Minas. Já a a aliança com o PSDB em Aracaju foi aprovada.