Título: Tamiflu some das farmácias
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2009, Mundo, p. 30

Há cerca de duas semanas, desde que a gripe suína atingiu o Brasil, as farmácias do setor privado não recebem mais o Tamiflu, remédio recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o tratamento da infecção pelo vírus influenza A (H1N1). A ausência do remédio nas prateleiras não é à toa. Assim que o primeiro caso foi confirmado no território brasileiro, o Ministério da Saúde solicitou ao laboratório Roche, fabricante do Tamiflu, que priorizasse a demanda do governo. Segundo as autoridades, a medida tem dois propósitos: potencializar os estoques em caso de epidemia declarada e evitar que a automedicação agrave a escassez. O laboratório Roche fechou ontem acordo com o governo brasileiro para que os laboratórios públicos do país passem a encapsular e acondicionar 9 toneladas do princípio ativo, adquiridas em 2005.

Atualmente, o Brasil dispõe em seus estoques de 12.500 kits para tratamentos prontos. Tem armazenados ingredientes (em pó) suficientes para produzir mais nove milhões de kits, caso haja necessidade. Fica sob responsabilidade do ministério encaminhar o medicamento ao estados, onde serão administrados pelas secretarias estaduais de Saúde. Cada estado recebeu 20 unidades para tratamento ¿ exceto o Rio de Janeiro e São Paulo, que receberam 200 kits cada um, por conta do número maior de casos suspeitos.

O pneumologista Ricardo Martins, professor da Universidade de Brasília e presidente da Sociedade Brasiliense de Doenças Torácicas, acredita que o contingenciamento dos remédios foi uma decisão acertada. ¿Ainda não sabemos direito a influência do vírus. É uma questão de saúde pública, por isso a reserva do remédio é estratégica¿, afirma. Ele partilha da preocupação com a automedicação. ¿O maior perigo é tomar o remédio sem estar doente, criar resistência ao vírus e, no futuro, a medicação ser ineficaz, se existir real necessidade de uso¿, adverte.

O médico participou da elaboração do Plano de Contingência Brasileiro para uma possível pandemia. Apesar de acreditar que não há como controlar a expansão do vírus, Martins ressalta que o governo brasileiro pôde se preparar para a inevitável chegada do H1N1 ao país. Por isso, as medidas de contenção vêm se mostrando eficazes contra o contágio, e não há motivo para alarde. Até ontem, o país tinha oito casos confirmados e 37 suspeitos, segundo balanço do Ministério da Saúde.

Além de ser usado para tratar casos de gripe suína, o Tamiflu é indicado no combate a outras variantes mais agressivas do influenza, como a gripe aviária. ¿Nessas situações, o paciente será encaminhado a um hospital de referência e receberá o remédio gratuitamente¿, explica Martins.