Título: PSDB lança Alckmin sob debandada de rebeldes
Autor: Aggege, Soraya; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 23/06/2008, O País, p. 5

Cúpula tucana evita chapa pró-Kassab, mas grupo decide apoiar prefeito; Serra defende aliança com DEM no 2º turno

Soraya Aggege e Tatiana Farah

SÃO PAULO. O PSDB oficializou ontem a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin a prefeito de São Paulo, mas diante de uma forte divisão interna. Em chapa única, formada a contragosto de um amplo grupo tucano, Alckmin obteve 1.037 votos, 89,9% dos 1.164 convencionais presentes. No entanto, vários líderes continuam declarando que apoiarão o candidato do DEM, o prefeito Gilberto Kassab. Os tucanos rebeldes, ligados ao governador José Serra, disseram que continuarão fazendo parte do governo Kassab.

- Não há interferência de cima. Minha candidatura é das bases - disse Alckmin, depois de argumentar que divergências são naturais nos partidos.

Os vereadores, secretários de governo e subprefeitos que apóiam Kassab apresentariam na convenção uma chapa contrária à candidatura de Alckmin, e em defesa da manutenção da aliança tucana com o DEM. Impedidos pelo presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, e orientados pelo próprio Serra, eles recuaram na noite de anteontem, mas fizeram uma espécie de convenção paralela à oficial, ontem de manhã. Cerca de 500 tucanos se reuniram no Círculo Militar, a 200 metros da Assembléia Legislativa, onde acontecia a convenção oficial. Os kassabistas decidiram permanecer nos cargos, participar da campanha do DEM e liberar seus convencionais.

- Será constrangedora essa esquizofrenia. Para fora, teremos que mostrar unidade, mas, na verdade, teremos dois palanques, o que só favorecerá o PT. Tudo isso por causa de um desejo pessoal de Alckmin, que não foi humilde - disse o secretário de Esportes de São Paulo, Walter Feldman, um dos líderes tucanos do grupo pró-Kassab.

O vereador Gilberto Natalini, outro líder dos rebeldes, disse que até 31 de dezembro o PSDB continuará no governo Kassab, como foi combinado com Serra, que deixou a prefeitura em 2006 para disputar o governo:

- Essa candidatura própria é lastimável. Vem de uma marcha de insensatez. E, agora, culminou em um grande problema para o PSDB paulistano: administrar duas candidaturas e ainda tentar derrotar o PT.

No palanque, Serra tentou equilibrar as forças tucanas e projetou as eleições para um possível segundo turno.

- Nós nos elegemos com uma aliança. Esta aliança não se manteve agora, na eleição municipal. Mas ela existe no estado e está governando muito bem. Se a aliança não se traduziu agora, com a candidatura própria, ela tem de se traduzir, sim, numa unidade no segundo turno. A batalha dá-se no primeiro, mas a decisão dá-se no segundo turno - disse, ao lado de Alckmin.

Em entrevista, o ex-governador e pré-candidato a prefeito Geraldo Alckmin afirmou que não vai criticar a administração Kassab e que fará campanha para os vereadores rebeldes:

- Eu não vejo o Kassab como adversário político e respeito o DEM pela candidatura própria. Não posso falar por eles (os vereadores tucanos), mas vou fazer a campanha deles.

Duas horas depois de a convenção oficial ter sido aberta, parte dos rebeldes, liderados por Feldman, decidiu ir à Assembléia. Mas a maioria dispersou, temendo provocações e mesmo um confronto, dado o acirramento dos ânimos.

- Não vamos lá aceitar provocações. Vamos evitar brigas ou confrontos. Vou para casa analisar melhor tudo isso - disse Natalini.

Feldman seguiu para a Assembléia disposto a cumprimentar o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra:

- Nós abrimos mão e ainda podemos ser hostilizados? Imagina! Nós merecemos aplausos - disse, enquanto seguia acompanhado de dois seguranças.

Na convenção oficial, no entanto, a chegada de Guerra, ao lado de Alckmin, e o anúncio da presença de Serra apaziguaram os ânimos.

- Na verdade, a minha diferença com o Serra é só de fuso horário - brincou Alckmin, enquanto olhava para o relógio e constatava a demora do governador, conhecido pelos atrasos nos eventos.