Título: Para conter alimentos, governo libera R$ 78 bi
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 20/06/2008, Economia, p. 27

Objetivo é aumentar produção agropecuária em até 6% e garantir abastecimento interno. Pequenos agricultores terão R$13 bi.

BRASÍLIA. O governo vai despejar na agropecuária nacional R$78 bilhões para impulsionar a safra 2008/2009 e tentar segurar, a médio e longo prazos, os preços dos alimentos, alvo de crise internacional. São R$9 bilhões a mais do que o destinado na safra anterior e, segundo estimativa do Ministério da Agricultura, com os recursos, será possível um crescimento de até 6% na produção, o que corresponderia a um acréscimo de quase 8 milhões de toneladas, de 144,3 milhões para 152,958 milhões.

O presidente Lula - que discutiu o assunto ontem em reunião com representantes das áreas econômica e agrícola do governo e com conselheiros - lançará as medidas em 2 e 3 de julho. O objetivo é aumentar produção e produtividade, para assegurar o abastecimento interno e evitar altas de preços que comprometam a inflação.

No dia 2, em Curitiba, Lula dirá que o conjunto de ações públicas voltada ao plantio dos grandes produtores - que engloba desde a equalização de juros até o crédito rural - somará R$65 bilhões, R$7 bilhões a mais que em 2007.

Governo vai criar linha de crédito para área degradada

No dia seguinte, Lula dará grande destaque à agricultura familiar, anunciando, em Brasília, R$13 bilhões, valor R$2 bilhões superior ao financiamento do ano passado.

- A agricultura familiar tem se mostrado fundamental para evitar uma contaminação ainda maior da inflação mundial nos preços dos alimentos no Brasil. Nos últimos dois anos, enquanto os preços da cesta básica subiram 83% no mundo, no Brasil a alta foi de 25% - afirmou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, em referência a estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Parte do dinheiro que será repassado sairá do Orçamento da União e será usado para equalizar a diferença entre as taxas de juros de mercado e as cobradas aos produtores nos financiamentos (8,75% ao ano) e garantir preços mínimos para os produtos básicos nos empréstimos e na comercialização da safra. Fundos constitucionais e BNDES também estão na lista de fontes de recursos.

O repasse também financiará a compra de máquinas e equipamentos agrícolas. Estão previstos ainda a criação de uma linha de crédito específica para a recuperação de áreas degradadas, com juros de 5,5% ao ano, e um programa de modernização da pequena propriedade, a taxas de 2% ao ano.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que haverá correção nos preços mínimos de garantia dos produtos, mas que o governo não pretende reduzir os juros ao produtor, já subsidiados.

- Não vamos reduzir as taxas atuais. Não faz sentido por causa da inflação.