Título: Sem novas medidas contra inflação
Autor: Beck, Martha; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 20/06/2008, Economia, p. 27

Em reunião com ministros, Lula diz que não quer comprometer crescimento.

BRASÍLIA. Preocupado com o risco de a inflação afetar sua popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ontem ministros e conselheiros econômicos. Concluiu-se que é preciso fazer uma calibragem para conter a pressão nos preços, mas sem medidas adicionais, como um novo aumento da meta de superávit primário (economia para pagar juros). Lula, porém, deixou claro que não quer prejuízos à expansão da economia a um ritmo de 5% e descarta que a conta seja paga por programas sociais e investimentos.

Lula disse temer que a inflação de alimentos e petróleo contamine outros setores. Mas foi tranqüilizado pelos presentes, que ressaltaram o potencial agrícola brasileiro e a capacidade da Petrobras em segurar reajustes. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma análise do quadro inflacionário, mostrando que as medidas adotadas, como a elevação do superávit de 3,8% para 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008, têm ajudado a reduzir a demanda interna.

Ele assegurou que a meta de inflação (4,5% com margem de dois pontos percentuais) será cumprida, embora o mercado estime que o IPCA deve fechar o ano em 5,8% - muito próximo do teto, de 6,5%.

Coube a Mantega dar explicações sobre a reunião para desfazer rumores de que, às pressas, seriam tomadas medidas para segurar o IPCA, como subir o superávit para 4,8% e restringir o crédito. Também estavam na reunião os ministros Reinhold Stephanes (Agricultura), Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Paulo Bernardo (Planejamento), além do secretário de Comunicação, Franklin Martins, o diretor do BC Alexandre Tombini, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e os conselheiros econômicos Luiz Gonzaga Beluzzo e Aloizio Mercadante, senador pelo PT-SP.

Brasil está resistindo ao choque das "commodities"

O governo não quer brecar o crescimento. Lula tem o trauma de 2005, quando, para controlar a inflação, aumentou-se significativamente os juros. Isso está fora de cogitação, disse uma fonte. A Selic deverá ser elevada, mas com moderação.

A equipe econômica quer esperar o efeito das medidas como o compulsório sobre os recursos que os bancos captam para aplicar em operações de leasing, que deve retirar do mercado R$40 bilhões em um ano, e o plano de safra. Segundo Mercadante, ficou decidido que não serão tomadas medidas heterodoxas, como fizeram México, Argentina e Índia.

- Aqui não vamos fazer nada disso - confirmou Mantega.

Ele disse que a avaliação foi que o Brasil está resistindo bem ao choque dos preços das commodities e que as medidas já adotadas foram eficientes:

- Se olharmos o PIB do primeiro trimestre, veremos que as correções de rota empreendidas pelo governo há algum tempo já estão fazendo efeito.