Título: Apoio ao Egito tem razão geopolítica
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 14/05/2009, Mundo, p. 31

O ministro Celso Amorim na Câmara: candidato brasileiro ¿avulso¿ não terá endosso do governo O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reafirmou ontem na Câmara dos Deputados que a opção do governo brasileiro por apoiar o candidato do Egito à direção-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) é ¿uma decisão geopolítica¿ e será mantida mesmo que o brasileiro Marcio Barbosa, atual número 2 do organismo e visto como um nome com boas chances, seja lançado por outro país. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores, o chanceler mais uma vez negou que o apoio ao candidato árabe faça parte de uma troca, pela qual ele próprio se candidataria ao comando da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e insistiu que sua aspiração é ¿continuar a servir ao governo Lula, se for da conveniência do presidente¿.

Deputados de oposição e também o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) questionaram a avaliação do Itamaraty, que põe em dúvida as chances de um candidato brasileiro. Chinaglia e Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), que estiveram há duas semanas na sede da Unesco, em Paris, relataram ter ouvido ¿pedidos de embaixadores de vários países¿ para que Marcio Barbosa fosse apresentado pelo governo brasileiro. ¿Há disposição de um conjunto de embaixadores na Unesco para lançá-lo, mas ele não quer, não se sente à vontade¿, afirmou o petista, que se confessou ¿inclinado¿ a encorajar a candidatura.

¿Se for lançado sem apoio do Brasil, não vamos hostilizar, mas não posso ter duas atitudes: temos uma política de aproximação com o mundo árabe e a África, por isso nosso apoio é ao candidato endossado pela Liga Árabe e pela União Africana, e foi oficializado em carta na qual eu também expressei quais são as expectativas por uma gestão dele¿, respondeu Amorim. O ministro contestou a avaliação de que Barbosa ¿teria vitória líquida e certa¿ e afirmou que, a partir de sondagens ¿não com embaixadores, mas com ministros e chefes de governo¿, concluiu que ¿não há fissuras¿ no apoio dos árabes e africanos ao ministro da Cultura do Egito, Hosni Farouk. Tanto Barbosa quanto o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), cujo nome tinha apoio dos 80 colegas da casa, ¿são por enquanto candidatos de si mesmos¿, acrescentou.

Respondendo ao deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que questionou o impacto da escolha para as relações com Israel, o chanceler admitiu que Farouk fez declarações ¿infelizes¿, de tom antissemita, ¿que nos preocuparam, e falamos sobre isso¿. O ministro egípcio, esperado na semana que vem para um encontro entre titulares de Cultura árabes e sul-americanos, no Rio, falou em queimar livros em hebraico. Amorim atribuiu as colocações de Farouk a disputas políticas domésticas e afirmou que o próprio candidato teria retificado o teor.

Irã Foi na mesma linha que Amorim respondeu a outra preocupação de Gabeira, relacionada ao convite feito ao presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, para vir ao Brasil ¿ a visita, marcada para a semana passada e cancelada, se realizaria dias depois de Ahmadinejad ter uma vez mais questionado o Holcausto. O ministro argumentou que o convite estava formalizado desde que ele próprio visitou Teerã, em novembro último. E desmentiu que a aproximação com o Irã tenha sido objeto de negociação com os Estados Unidos. ¿Não é nosso hábito pedir licença para tomar nossas decisões¿, afirmou.

VEZ DE ISRAEL O ministro Celso Amorim anunciou durante a audiência que está em negociação com Israel uma visita do novo chanceler, Avigdor Lieberman, que se opõe à criação do Estado palestino. O Itamaraty ofereceu marcar o encontro para julho, e a diplomacia israelense confirma as negociações. Amorim ressaltou que discorda ¿das posições expressas pelo ministro em campanha¿, mas que ¿não pautamos o diálogo diplomático só pelas concordâncias¿.