Título: Quem quer só dinheiro?
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Fonte: O Globo, 25/06/2008, Economia, p. 23
Número de milionários subiu 19% no Brasil e 6% no mundo
NOVA YORK
As crises globais não vêm para todos. Ano passado, apesar da turbulência nos mercados, o Brasil registrou o terceiro maior aumento no número de milionários em todo o mundo. Segundo pesquisa divulgada ontem pelo banco de investimentos Merrill Lynch e pela consultoria Capgemini, eles são 143 mil no Brasil, 19,1% a mais que em 2006. Resultado bem acima da alta global de 6%, que deixou o mundo com 10,1 milhões de milionários, contra 9,5 milhões em 2006 - um aumento de 600 mil. O Brasil só perdeu para Índia e China, com altas, respectivamente, de 22,7% e 20,3%.
A pesquisa conta aqueles com patrimônio - imóveis, ações e aplicações financeiras, entre outros, excluindo-se a moradia - superior a US$1 milhão. A riqueza global aumentou 9,4%, para US$40,7 trilhões. Pela primeira vez, a média per capita de ativos ultrapassou US$4 milhões. Já a população dos ultra-ricos - aqueles com patrimônio superior a US$30 milhões, também sem contar a moradia - cresceu 8,8%, para 103.300.
Na Rússia - país que forma o grupo emergente Bric, ao lado de Brasil, Índia e China -, a expansão no número de milionários desacelerou de 15,5% em 2006 para 14,4% no ano passado. Mesmo assim, a Rússia ficou com a décima maior alta no mundo. O ranking, aliás, é dominado por emergentes: depois de Brasil, vêm Coréia do Sul (18,9%), Indonésia (16,8%), Eslováquia (16%), Cingapura (15,3%), Emirados Árabes Unidos (15,3%) e República Tcheca (15,1%).
O relatório destaca o peso dos emergentes, onde o aumento no número de milionários deveu-se, em grande parte, à "expansão vigorosa das exportações e ao aumento da demanda interna". E ressalta o papel da "crescente aceitação dos centros financeiros emergentes como atores globais" na expansão dessas economias.
Etanol e Bovespa puxam expansão
Com relação ao Brasil, Merrill e Capgemini ressaltam o crescimento da economia em 2007 - o relatório usa o número de 5,1%, divergente dos 5,4% divulgados pelo IBGE em março -, as exportações de commodities e o desempenho do mercado de ações. "Com setores de agricultura, mineração, manufatura e serviços bem desenvolvidos, e como grande exportador de matérias-primas, energia e outras commodities, o Brasil colheu os benefícios dos saltos nos preços de alimentos e energia no ano passado. Além disso, o Brasil é o maior exportador de etanol do mundo, o que lhe garante uma importante fatia no mercado de energia alternativa, que vem ganhando popularidade à medida que os preços do petróleo e da energia convencional continuam a subir".
O relatório ressalta ainda que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou o quarto melhor desempenho entre as maiores ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), aumentando sua fatia nesse mercado em 7,2%. O documento calculou um retorno de 43,6% para a Bovespa, perdendo para as chinesas Shenzen (167%) e Xangai (96,1%) e para a Bolsa de Bombaim (47,1%). E lembra que, frente ao real, o dólar teve desvalorização de 17%. Frente ao euro, o recuo da moeda americana foi de 10,5%.
Os mercados emergentes, garante o relatório, tiveram uma contribuição significativa para o nível recorde de IPOs em 2007. Foram mais de 1.300 operações de abertura de capital, que levantaram cerca de US$300 bilhões. "Os países do Bric exibiram uma força excepcional nesse cenário, respondendo por 39% do volume global de IPOs em 2007, contra 32% em 2006". Os dois maiores IPOs do mundo em 2007 foram dos bancos russos Sberbank e VTB, que, somados, atingiram US$17 bilhões.
Em 2007, também cresceu o volume de investimento estrangeiro direto para os emergentes. Sozinha, a China captou US$55 bilhões, enquanto o volume para a América Latina dobrou em um ano: de US$52,6 bilhões para US$106 bilhões.
A América Latina registrou o terceiro maior aumento no número de milionários: 12,2%. Ficou atrás do Oriente Médio, com 15,6%, e dos países do Leste da Europa - República Tcheca, Hungria, Polônia, Romênia, Rússia, Eslováquia, Turquia e Ucrânia -, com 14,3%.
Até 2012, fortuna global de US$59 tri
Mas, com relação ao volume de riqueza, a América Latina ficou à frente, com alta de 20,4%, para US$6,2 trilhões. A seguir vem o Oriente Médio, com 17,5%, para US$1,7 trilhão. A África registrou um salto de 14,9%, mas tem apenas US$1 trilhão. A América do Norte, apesar de ter registrado o menor crescimento no volume de riqueza (4,4%), concentra a maior fatia do bolo: US$11,7 trilhões. A Europa, que teve expansão de 5,3%, tem US$10,6 trilhões.
A América Latina tem outro recorde, o de maior percentual de ultra-ricos dentro do universo total de milionários: 2,5%. A África vem logo depois, com 2% - não por acaso, regiões com elevada desigualdade social. Bem acima do 0,8% da Europa e do 1,3% da América do Norte, regiões muito mais ricas.
O aumento no número de milionários ano passado ficou abaixo dos 8,3% de 2006. A expansão do volume de riqueza também foi menor. Em 2006, houve crescimento de 11,4%, para US$37,2 trilhões.
Segundo o relatório, isso se deve, em grande parte, à crise das hipotecas de alto risco nos EUA, que afetou os demais países ricos. Os índices globais MSCI, de mercados acionários, recuaram 0,1% e 3,2% no segundo semestre na Europa e nos EUA. Já os índices MSCI de mercados emergentes avançaram 25,3% na América Latina, no primeiro semestre, e 34,1% nos Bric no segundo semestre.
Apesar da incerteza sobre o desempenho da economia global a curto prazo, Merrill e Capgemini estimam que, até 2012, a fortuna global dos milionários atinja US$59,1 trilhões, com crescimento anual de 7,7%.
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