Título: PF prende 24 pessoas por lavagem de dinheiro em SP e Santa Catarina
Autor: Baldissarelli, Adriana; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 21/06/2008, Economia, p. 34

Quadrilha fraudava licitações públicas em portos e fazia lavagem de dinheiro.

FLORIANÓPOLIS e RIO. Em ação conjunta com a Receita, a Polícia Federal prendeu ontem 24 pessoas, entre empresários, policiais e servidores públicos. Eles são acusados de integrar uma organização criminosa envolvida em corrupção, estelionato e lavagem de dinheiro. A chamada Operação Influenza mobilizou 252 policiais e 33 auditores da Receita. Foram executados 51 mandados de busca e apreensão em localidades de São Paulo e Santa Catarina.

De acordo com a PF, a quadrilha praticava fraudes em licitações públicas, superfaturando serviços contratados, principalmente nos portos de Itajaí e São Francisco do Sul, por meio do pagamento de propina a servidores públicos.

Entre os detidos estão os empresários Antônio Iafelice, Antônio Augusto Pires, e Francisco Ramos, sócios da Agrenco, que atua em agronegócios. Segundo a PF, a empresa subornava fiscais da Cidasc, órgão estadual responsável pelo controle da saúde animal e vegetal nos portos de Santa Catarina.

- O Chico Ramos pagava valores mensalmente aos fiscais da Cidasc - disse o delegado Roberto Cordeiro, que comandou a operação.

Os sócios participariam também dos esquemas para trazer ilegalmente dinheiro de fora do país. Para lavar o dinheiro, segundo as investigações, o grupo usaria "laranjas" e empresas de fachada, com ramificações em vários estados e em outros países, como Argentina, Holanda, Reino Unido, Malta, Itália, Noruega, Bermudas, França e Cingapura.

Na prática, a Agrenco compra soja, milho e óleo de soja de pequenos produtores e revende a outros países. Com sede nas Bermudas, tem subsidiárias em vários continentes e ações listadas na Bolsa de Valores de Luxemburgo, onde têm pouca liquidez. No Brasil, lançou Brazilian Depositary Receipts (BDRs, ou recibos de ações de empresas estrangeiras) na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em outubro de 2007, a R$10,40. Os papéis vêm caindo ao longo deste ano, sendo que ontem despencaram 46,8%, para R$1,25. A Bolsa suspendeu a negociação dos papéis e pediu explicações à empresa, que ainda não se manifestou.

Segundo um analista, a companhia é alvo de desconfiança há alguns dias. O volume médio de negociações, sempre abaixo de R$1 milhão, chegou a R$13 milhões na segunda-feira. A Bovespa pediu esclarecimentos, e a empresa alegou que a oscilação se deveria à convocação de uma assembléia, em 11 de julho, para discutir a emissão de 25 mil novas ações. No mesmo dia, a produtora de equipamentos Hunter do Brasil pediu a falência de uma subsidiária da Agrenco.

Credit Suisse tem participação na Agrenco

Do total de ações da empresa, 41,58% estão no mercado. Outros 48,31% pertencem à Agrenco Holding e 3,21% são da Marubeni Corporation. O banco Credit Suisse tem participação de 6,89%. Ontem, no Brasil, ele foi o que mais vendeu ações, num total de R$3,2 milhões.

No ano passado, o banco emprestou US$120 milhões à empresa. Em troca, coordenou o lançamento das ações na Bolsa, quando foram captados R$670 milhões. Na época, recebeu US$10 milhões em dinheiro, além de US$30 milhões em comissão. Além disso, ficou com uma participação acionária na empresa.

Também foram presos ontem o delegado aposentado da PF Miguel Murad Varella; o ex-superintendente do Porto de Itajaí Wilson Rebello; Jackson Corbari, delegado da Receita Federal em Itajaí; Roberto Luiz Marcon, diretor da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc); e Normélio Weber, secretário de Comunicação da Prefeitura de Itajaí. Todos responderão por crimes contra a administração pública, a ordem tributária, o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estelionato e falsidade ideológica.