Título: Minc: governo fará leilão de bois apreendidos
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 25/06/2008, O País, p. 10

Operação capturou 3.100 cabeças criadas em fazenda clandestina no Pará; dinheiro arrecadado irá para o Fome Zero

Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, prometeu fazer em até três semanas o primeiro leilão de gado apreendido em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia. Ele apresentou ontem os resultados iniciais da operação Boi Pirata, que capturou, na semana passada, 3.100 cabeças criadas numa fazenda clandestina na Estação Ecológica da Terra do Meio, em Altamira, no Pará. O gado será leiloado pela Companhia Nacional de Abastecimento, que doará o dinheiro arrecadado ao programa Fome Zero. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) classificou a operação de "populismo ambiental".

O primeiro alvo da operação foi a Fazenda Lourilândia, que começou a devastar a floresta para abrir pastos há seis anos. Desde 2005, quando a reserva ambiental foi criada, o pecuarista Lourival Medrado se recusava a retirar o gado da área, apesar de ter recebido duas ordens de desocupação da Justiça Federal. Depois da apreensão, produtores vizinhos começaram a tirar seus bois às pressas, como mostram fotos aéreas feitas pelos fiscais do Ibama. Segundo Minc, ainda há 40 mil cabeças de gado ilegal na reserva.

O ministro afirmou que a operação terá "efeito de demonstração" e não elevará o preço da carne, como disse na semana passada o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. Segundo Minc, o problema da pecuária brasileira são as questões sanitárias, não as ações de combate ao desmatamento:

- É muito fácil o discurso do transgressor. Quando você cai em cima, ele diz: "Não me reprima, porque vai aumentar o preço da carne". Você não pode criar gado no meio de um parque nacional ou de uma reserva ecológica. O boi vai ser leiloado, e não vai aumentar o preço da carne. O que vai aumentar é o combate à impunidade.

"Há gritaria porque a gente quer fazer cumprir a lei"

O ministro disse que Maggi voltou a pedir a derrubada do corte de crédito verde no último encontro dos dois, na semana passada, e negou a possibilidade de recuo.

Ao divulgar os primeiros resultados da caça ao boi pirata, Minc disse que o gado criado em áreas de desmatadas vai virar "churrasquinho ecológico para o Fome Zero" e prometeu, em tom de ironia, leiloar "reprodutores de alta qualidade". Mas também demonstrou incômodo com as críticas:

- Há uma gritaria porque a gente quer fazer cumprir a lei.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente da CNA, Assuero Veronez, chamou a operação de demagógica.

- O ministro anuncia medidas espetaculosas para gerar notícias e intimidar os produtores, mas não oferece alternativas de desenvolvimento para a Amazônia. Essa operação pode cair no descrédito e acabar ridicularizada - disse Veronez, que se encontrou com Minc à tarde para reclamar da medida.