Título: Da cesta básica ao enterro: vereador paga tudo para o eleitor mineiro
Autor: Lopes, Rodrigo
Fonte: O Globo, 22/06/2008, O País, p. 4

Assistencialismo nas câmaras de Belo Horizonte e Betim é regra para obter votos.

BELO HORIZONTE. Tratamentos de saúde, festas e bolsas de estudo rendem votos para os vereadores de Belo Horizonte. A demanda por atendimento médico alcança quase todos os gabinetes de parlamentares da capital mineira. Líder comunitário do Concórdia, bairro de classe média baixa no norte da cidade, o vereador Sérgio Balbino, mais conhecido como Balbino das Ambulâncias (PRTB), mantém uma espécie de quartel-general assistencialista com o propósito de conquistar mais eleitores.

Ele instituiu um disque-ambulância para atender os moradores de seu curral eleitoral. Os veículos são decorados com o rosto e o nome do vereador, que se destacam na ambulância roxa, ao lado do número do "disque-saúde". O serviço oferecido por Balbino, que busca o segundo mandato, conta com cinco veículos, que fazem o transporte de seus eleitores 24 horas por dia. O Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) conta com 20 ambulâncias para atender a capital e a região metropolitana.

Vereadores recebem R$15 mil de verba indenizatória

Os 41 vereadores de Belo Horizonte recebem R$15 mil mensais de verba indenizatória. É esse dinheiro que custeia o assistencialismo. Além do transporte, Balbino também mobiliza todos os assessores para marcar consultas e agilizar internações e cirurgias. E se gaba de manter duas escolas de informática, com 30 computadores para atender eleitores carentes.

A assessoria de Balbino disse que o chefe estava em reunião e não poderia atender, e não forneceu detalhes sobre o serviço social do parlamentar.

Já o vereador Wellington Magalhães (PMN), além de gastar o dinheiro do contribuinte com o transporte de eleitores, promove festas com churrasco e cerveja nos bairros no norte da capital mineira. Há cerca de três meses, Magalhães interditou uma avenida na região para realizar um grande showmício com duplas sertanejas que atraiu 10 mil pessoas. O lema da festa foi música, bebida e voto em Magalhães.

O vereador Preto Messias (DEM) mantém o seu curral eleitoral no leste de Belo Horizonte com distribuição de cestas básicas. Através de uma entidade de filantropia, ele oferece cursos de informática. Sérgio Ferrara (PDT) montou uma estrutura no Legislativo para ajudar o eleitor a obter o financiamento da casa própria. Ele chegou a colocar anúncios na cidade divulgando o serviço. Também oferecia consultoria e incentivava seus eleitores a entrar na Justiça para corrigir pensões e aposentadorias do INSS.

Em Betim, dinheiro para remédios e documentos

A Câmara de Betim, na grande Belo Horizonte, foi transformada em balcão de favores. Vereadores oferecem dinheiro para enterros, remédios, transporte de pacientes com consultas marcadas em hospitais da capital e até guia que dá direito a desconto a quem precisar fazer fotos para documentos. Recursos para tantos afagos não faltam. A Câmara da cidade é a mais cara do estado na relação entre população e orçamento do Poder Legislativo.

O vereador Geraldo Pimenta (PCdoB) costuma ajudar em velórios de familiares de eleitores. Mas as benesses não se restringem às despesas fúnebres; ele também auxilia alguns de seus eleitores com remédios e transporte para irem à capital para consultas médicas.

Léo Pinduca (PP) é ainda mais solidário. Através de uma ONG dirigida por sua família, que já recebeu quase R$2 milhões dos cofres do município, mantém cursos de informática e corte e costura. Os moradores de Betim também não podem reclamar da gentileza do parlamentar, que disponibiliza dois ônibus e várias vans para transportar o eleitorado para irem a uma festa, a um velório e até mesmo para irem jogar uma partida de futebol. Para os eleitores não correrem o risco de ficar sem o transporte cedido pelo parlamentar é necessário fazer a reserva com antecedência. Pinduca faz doação de mais de 50 cestas básicas mensais e paga conta de luz e de água de algumas famílias.