Título: Maioria das terras é controlada pelo agronegócio
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 22/06/2008, O País, p. 15

Para geógrafo, modelo adotado por corporações gera poucos empregos.

SÃO PAULO. Do total de 420 milhões de hectares de terras agricultáveis do Brasil, o agronegócio já controla 300 milhões de hectares, boa parte por grandes corporações agropecuárias, na avaliação do geógrafo Bernardo Mançano. Cerca de 60 milhões de hectares foram destinados à reforma agrária no país, desde o governo Getulio Vargas. O restante está distribuído na produção familiar.

- Há então uma espécie de reserva de território do agronegócio. O problema é essa "reserva" de terras que, na verdade, são devolutas - disse o pesquisador da Unesp.

Segundo Mançano, o agronegócio hoje é controlado pelas grandes corporações, envolvidas no que ele chama de "conjunto de sistemas":

- Elas têm de dois a seis sistemas, com atuação tanto em agricultura como no sistema financeiro. Elas adotam um modelo que gera poucos empregos, provoca migrações, acaba com a diversidade e devasta regiões inteiras. Os movimentos hoje lutam contra esse modelo das grandes corporações, nacionais ou transacionais.

Para especialista, governo Lula optou por agronegócio

O geógrafo Ariovaldo Umbelino, que coordena várias pesquisas na Universidade de São Paulo (USP) sobre a reforma agrária, avalia que os movimentos de massas vivem um momento de refluxo. Na teoria política, significa um ciclo dentro de um contexto histórico maior.

- As lutas de massas vivem um refluxo. Isso, no entanto, não quer dizer que no futuro a pressão não voltará a crescer. O país tem uma demanda reprimida de cinco milhões de famílias.

Para o geógrafo, os movimentos de sem-terra se subdividem hoje em dois grupos: os ligados à Via Campesina, como o MST, que querem uma mudança profunda no modelo econômico, e o "bloco sindical", que reúne os sindicatos e federações de sem-terra, atualmente mais ligados ao governo - inclusive com cargos públicos.

- Em geral a reforma agrária não aparece mais em primeiro lugar nas reivindicações. Pelos nossos estudos, essa mudança se deve a uma combinação de fatores. O governo Lula fez uma opção preferencial pelo agronegócio - disse Umbelino.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário contesta os especialistas. Os dados são de que nos últimos cinco anos foram assentadas 448.954 famílias. Para este ano, estão previstos R$4,3 bilhões no orçamento do Incra - aumento de 7,47% em relação ao ano anterior. O ministério nega que a concentração de terras esteja aumentando.

Os dados preliminares do censo agropecuário 2007 revelam que o número de propriedades rurais cresceu de 4,8 milhões para 5,2 milhões, ao mesmo tempo em que o tamanho médio delas diminuiu, segundo o ministério.