Título: MST troca a reforma agrária pelo agronegócio
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 22/06/2008, O País, p. 15
Sem-terra deixam de lado movimento por áreas para assentamento e passam a atacar empresas do país e multinacionais.
SÃO PAULO. Os movimentos dos sem-terra estão esvaziando os acampamentos e as ocupações pela reforma agrária no país, enquanto engrossam os protestos contra o agronegócio e as multinacionais. Levantamentos feitos pelo GLOBO mostram que, nos últimos quatro anos, os sem-terra - a maioria do MST - reduziram em 90% seus acampamentos em estradas, considerados estratégicos no movimento por reforma agrária, enquanto que, no mesmo período, o governo só cumpriu em 30% sua promessa de assentar 550 mil famílias - nos últimos cinco anos foram assentadas 150 mil novas famílias.
- Os acampados abandonaram a estrada porque se convenceram da dura realidade: Lula não vai fazer reforma agrária. Sabendo disso, o MST decidiu engrossar a demanda, e fala agora em combater o agronegócio - diz o presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), Plínio de Arruda Sampaio, que apóia o MST.
Desde 2003, após a posse de Lula, quando os sem-terra fizeram várias invasões de terras no país, os movimentos têm reduzido gradativamente suas mobilizações pela reforma agrária, ao mesmo tempo que o governo amplia programas como o Bolsa Família e demonstra sua opção pelo agronegócio e as corporações do campo.
Em 2003, 59.082 famílias acamparam nas estradas pela reforma agrária. Nos últimos cinco anos, a quantidade caiu para 10%: até dezembro de 2007, apenas 6.299 famílias se mobilizaram nos acampamentos, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A quantidade de famílias em ocupações também diminuiu: o pico histórico foi em 2004, com 79.591 famílias. No fim de 2007, a quantidade caiu para 49.158, segundo a CPT. Ao mesmo tempo, a quantidade de assentamentos novos do governo também foi reduzida. Nos oito anos do governo Fernando Henrique, foram assentadas 400 mil famílias. Lula assentou 150 mil em cinco anos, segundo checagens de pesquisadores sobre os dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Outro dado que pode explicar a desmobilização é a média de espera nos acampamentos: quatro anos no governo Lula, dois no governo FH, segundo estudos do geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, da Unesp.