Título: EUA: Senado recomenda aproximação do Brasil
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 30/06/2008, Economia, p. 18

Relatório que será enviado à Casa Branca diz que, com descobertas do pré-sal, Petrobras será a maior do mundo

José Meirelles Passos

WASHINGTON. Um informe da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, que será entregue em breve à Casa Branca e, mais tarde, à equipe de transição do presidente que for eleito em 4 de novembro, alertará para a necessidade de se corrigir um erro em relação ao Brasil. Ele recomenda que o país seja encarado em sua verdadeira dimensão, com base em sua influência global e em seus próprios avanços tecnológicos e sociais, e não como um mero vizinho latino-americano.

O documento vai sugerir uma aproximação maior entre os dois países, sob pena de os EUA verem seu maior parceiro na América do Sul firmar alianças econômicas e políticas com Europa e Ásia, deixando Tio Sam em segundo plano. Um acordo bilateral de livre comércio, apenas em áreas de interesse comum, é uma das sugestões a serem feitas na área comercial.

EUA precisam criar política específica para o Brasil

As advertências sobre os equívocos dos EUA ao avaliar o Brasil ganharam corpo depois que dois representantes daquela comissão do Congresso americano visitaram o país, por uma semana, no início deste mês. A equipe retornou a Washington fascinada e, ao mesmo tempo, preocupada com o que viu.

¿ É preciso mudar esse ciclo de percepções equivocadas sobre o Brasil, pois agora já vemos como será o Brasil daqui a pouco, a médio prazo. E acho que podemos nos antecipar um pouco melhor a esse respeito, através de alianças, do que apenas reagir mais tarde, quando será tarde demais, pois o Brasil já terá desenvolvido relações com outros e nós teremos perdido o barco ¿ disse, em entrevista exclusiva ao GLOBO, Carl Meacham, assessor sênior da Comissão de Relações Exteriores, que está preparando o informe.

Ele e um colega estiveram em Brasília, Belo Horizonte e Rio. Conversaram com autoridades nos ministérios da Fazenda, e Minas e Energia. E tiveram contatos com diretores de Petrobras e Vale ¿ que definiram como duas das empresas mais modernas do mundo. Caso se confirmem recentes descobertas de petróleo na área do pré-sal, ¿não há dúvida de que a Petrobras se tornará a maior empresa do mundo¿, diz o informe.

¿ Os EUA olham para o Brasil como uma questão latino-americana quando, além de ter implicações para nossas políticas no hemisfério, esse país tem ambições globais. O Brasil quer ser visto, com toda razão, como mercado emergente como a Índia, que saltará para a condição de país poderoso na próxima geração. Temos de criar uma política específica para o Brasil, coisa que jamais tivemos ¿ disse Meacham.

Ao antecipar alguns dos pontos do informe, o seu autor disse que o senador Richard Lugar, o republicano mais graduado naquela comissão, é o maior entusiasta de um aprofundamento das relações com o Brasil, e que há um interesse bipartidário nisso. O fato dos EUA estarem prestes a ter um novo presidente seria justamente o momento exato para virar o jogo.

¿ Trata-se de uma questão de energia e também de investimentos. Temos que começar já a melhorar e aprofundar o relacionamento com o Brasil. Quando chegar o nosso novo governo, teremos uma proposta ou conselhos muito claros sobre o que devemos fazer, determinando as nossas prioridades no hemisfério. O Brasil, sem dúvida, tem que ser, junto com México, nosso principal parceiro na região ¿ disse Meacham.

Meacham: acordo do etanol entre os dois países é frágil

O informe deverá destacar que é essencial haver um relacionamento bilateral mais vigoroso entre a comunidade empresarial. ¿O enfoque governo-a-governo, que tem prevalecido, pode limitar as capacidades que temos¿, diz o documento. Segundo ele, as iniciativas vigentes são demasiadamente modestas para serem transformadas numa moldura para o novo relacionamento:

¿ Precisamos de algo mais amplo, um pouco mais ambicioso ¿ afirmou Meacham.

O memorando de entendimento sobre o etanol, firmado pelos presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva, e anunciado como um passo adiante no relacionamento, é tido como algo frágil.

¿ Não temos garantia alguma de que nosso próximo presidente continuará com essa política. Portanto, o que precisamos é criar iniciativas como essa, mas trancá-las, ou seja, transformá-las em leis, que têm de ser respeitadas por todos, independentemente de partidos, independentemente do governo que estiver no poder ¿ disse o assessor do Congresso.