Título: Tarifas e salários, candidatos a vilões da inflação
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 22/06/2008, Economia, p. 37

Preços administrados podem ter altas até 50% maiores no ano que vem. BC deve subir mais os juros básicos

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. Alimentos e petróleo são hoje os grandes vilões da inflação global. Mas, no Brasil, devem ganhar dois aliados de peso já a partir do fim deste ano e, sobretudo, no ano que vem: as tarifas públicas e os salários. Nos últimos anos, os preços administrados vinham ajudando a segurar os indicadores, com aumentos pequenos ou reduções, caso da conta de eletricidade. Mas esta fase começa a ficar para trás e já se calcula que alguns reajustes poderão ser até 50% maiores no ano que vem do que os registrados em 2008.

Os salários vão refletir justamente a escalada dos preços dos últimos meses, sobretudo por intermédio do INPC, principal referencial para as negociações dos trabalhadores. Em maio, acumulava alta de 3,32% no ano e de 6,64% nos últimos 12 meses - já acima dos 5,15% de todo 2007.

Reposição salarial será repassada a preços finais

Com mais pressão, avaliam os especialistas, o Banco Central (BC) deve elevar ainda mais os juros. Hoje, a Selic está em 12,25% ao ano, a maior taxa básica do mundo. O mercado espera que ela encerre o ano em 14,25%.

- Provavelmente, a inflação não vai estourar, por causa da política monetária. O que preocupa são os efeitos secundários da inflação - diz o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.

Um desses movimentos recairá justamente sobre os salários. Nos últimos anos, os trabalhadores estão conseguindo repor as perdas. Como a mão-de-obra é um dos principais itens dos custos de produção, as empresas poderão repassá-los aos preços finais.

Categorias obtiveram reajuste acima da inflação

Nos últimos três anos, mostra o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), quase 90% das categorias conseguiram reajustes salariais acima do INPC - embora, segundo o coordenador de Relações Sindicais da entidade, José Silvestre, o tamanho dos ganhos reais já esteja encolhendo.