Título: Médico diz que não era preciso internação
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 26/06/2008, O País, p. 8

Segundo cardiologista, não há dúvidas sobre alta dada a dona Ruth.

SÃO PAULO. O cardiologista Artur Beltrame Ribeiro, que atendeu dona Ruth Cardoso, informou ontem, por meio de sua assessoria, que a antropóloga recebeu alta na noite de segunda-feira porque todos os exames indicavam que ela não precisava mais ficar internada. A liberação aconteceu 24 horas antes de dona Ruth vir a sofrer uma arritmia cardíaca e morrer de infarto súbito em seu apartamento, no bairro de Higienópolis.

O médico nega que dona Ruth tenha insistido em deixar o Hospital do Rim e da Hipertensão, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde realizou na tarde de segunda-feira um cateterismo para a desobstrução das artérias.

Segundo O GLOBO apurou, embora seja normal o paciente assinar um termo de responsabilidade ao deixar o hospital quando o caso tem certa gravidade, dona Ruth não assinou tal documento ao ser liberada do hospital da Unifesp.

- Dona Ruth teve alta hospitalar porque o corpo médico, chefiado pelo doutor Artur Beltrame, entendeu que não havia necessidade de uma outra intervenção médica, inclusive cirúrgica - disse uma fonte ligada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em momento algum parentes de dona Ruth questionaram os procedimentos adotados pelos médicos. Os médicos apenas recomendaram restrições alimentares e cuidados especiais para uma pessoa que era vítima de arteriosclerose desde 1997 (ela sofria com o entupimento de veias por substâncias gordurosas).

Os médicos e a Unifesp disseram ontem que oficialmente não concederiam entrevista para explicar os procedimentos que adotaram no caso de dona Ruth. Segundo eles, a nota que divulgaram na noite de anteontem, duas horas após a morte da ex-primeira-dama, continha todas as informações sobre o caso.

"A senhora Ruth Cardoso, de 77 anos, faleceu subitamente hoje, às 20h40m, em sua residência. Há um dia ela foi submetida a um cateterismo cardíaco que revelou doenças coronárias de extensão similar à doença já revelada em dois cateterismos prévios, em 2004 e 2006. Atribuímos a morte à arritmia grave decorrente da doença coronariana", diz a nota dos médicos Artur Beltrame Ribeiro, Valter C. Lima e Edson Stefannini.

O cardiologista Artur Beltrame é um dos mais destacados médicos brasileiros especialistas em hipertensão arterial e diabetes e autor de vários livros. É professor da Escola Paulista de Medicina desde 1977 e mestre em nefrologia desde 1981.

Antes do cateterismo que dona Ruth fez nesta segunda-feira, ela já havia feito outros dois, em 2004 e 2006. Em 2004, os médicos introduziram nas artérias stents, dispositivos implantados nas veias obstruídas com o objetivo de alargá-las e impedir que fechem e interrompam a circulação do sangue.

COLABOROU Ricardo Galhardo