Título: Polícia admite que poderá convocar ministros
Autor: Éboli, Evandro; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 24/06/2008, O País, p. 8

Deputados federais que tiveram gabinetes revirados são já respondem a processos no Supremo

Itamar Mayrink

BELO HORIZONTE. A Polícia Federal decide hoje sobre o pedido de prorrogação das prisões feitas na última quinta-feira, na Operação João de Barro, que investiga desvios em verbas para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O delegado Nelson Cerqueira evitou responder perguntas sobre o possível pedido de prisão de prefeitos dos municípios com suspeita de irregularidades. Ele alegou o sigilo do inquérito, mas admitiu que até ministros serão convocados, se for necessário. A PF não fala em nomes, mas as investigações se concentram nas pastas dos ministros Márcio Fortes (Ministério de Cidades) e Dilma Rousseff (Casa Civil).

Os dois deputados federais mineiros que tiveram os gabinetes revirados por agentes da PF, João Magalhães (PMDB) e Ademir Camilo (PDT), devem ser ouvidos. Mas, como detentores de mandato eletivo, têm a prerrogativa da escolha da hora e do local para os depoimentos.

Empresário se apresentou à PF e foi preso

Um empresário procurado pela PF após a deflagração da operação apresentou-se à polícia ontem, em Belo Horizonte. Depois de ser ouvido na superintendência regional da instituição, o empresário, que não teve a identidade revelada, foi levado à prisão. A PF ainda procura onze suspeitos de envolvimento com o esquema.

Camilo e Magalhães já respondem, na condição de réus, a processos no Supremo Tribunal Federal (STF). As investigações começaram em 2006, com o Tribunal de Contas da União e a Procuradoria Geral da República, a partir de indícios de fraudes na liberação de recursos para 30 cidades do interior de Minas. Magalhães é investigado por participação no esquema de apropriação irregular de recursos a partir de emendas ao Orçamento da União, para obras em municípios do Vale do Rio Doce e da região Leste de Minas Gerais, entre 1999 e 2002. O processo de licitação contou com empreiteiras fantasmas, que receberam os recursos liberados nas emendas parlamentares.

O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, na época, havia confirmado que se tratava de uma fraude, tendo o parlamentar mineiro como principal beneficiado pelos recursos desviados para as empresas fantasmas. Magalhães chegou a depor no inquérito, que ainda tramita, e atribuiu a investigação a disputas políticas. Magalhães também é investigado por participação no escândalo que ficou conhecido como a Máfia das Sanguessugas.

Camilo é acusado de fraudar documentos

Ademir Camilo é acusado de fraude de documentos. O crime de falsidade ideológica teria sido praticado em agosto de 2002. Segundo o processo, no STF, ele teria omitido, na inscrição que fez em 1996 para prestar concurso público na cidade de Frei Gaspar, que já era médico da prefeitura de Itambacuri, ambas cidades mineiras. Na época, também atuava como médico do estado.

Na ocasião, Camilo disse que foi aprovado nos dois concursos no mesmo ano. Quando passou na prova de Frei Gaspar, cumpria ainda estágio probatório em Itambacuri, de onde pediu demissão. Um mandado de segurança teria garantido a Camilo o direito de tomar posse na segunda cidade, mas uma denúncia fez com que o inquérito fosse instaurado: ele ainda não teria concluído a graduação.

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