Título: Mais demanda na economia
Autor: Schreiber, Mariana
Fonte: O Globo, 26/06/2008, Economia, p. 22

Professor da PUC e especialista em inflação, o economista Luiz Roberto Cunha afirma que os reajustes salariais acima do índice, que já está em alta, vão aumentar ainda mais demanda na economia, com reflexo nos preços: "A produtividade dos setores que negociam salários no segundo semestre é alta e compensa os reajustes. Porém, é mais demanda na economia".

Cássia Almeida

Quais os reflexos, nos indicadores, dos reajustes acima da inflação de categorias grandes, como as de petroleiros, metalúrgicos e bancários?

LUIZ ROBERTO CUNHA: A grande preocupação é obviamente com o aumento do consumo. Em alguns setores, como os citados, os ganhos de produtividade têm sido significativos. Por isso, há condições de absorver o aumento dos custos, sem repasse para os preços. Porém, é mais um fator para aumentar a demanda agregada.

O senhor acredita que os trabalhadores conseguirão reajuste real com a inflação girando em torno de 7%?

CUNHA: No Brasil, há uma forte vinculação entre salários e preços. E, com a economia aquecida, há chances.

Além dos reajustes no segundo semestre, há a alta de 8% nos benefícios do Bolsa Família...

CUNHA: O Bolsa Família é muito importante na distribuição de renda e, portanto, precisa do reajuste. Mas é preciso cortar do outro lado, nas despesas públicas. Há demanda privada e pública. Se as duas crescem, é mais um fator de preocupação.

A inflação é mundial. Há essa pressão vinda dos salários também lá fora?

CUNHA: Nos Estados Unidos, a economia é mais flexível e houve redução no número de sindicalizados. Na Ásia, não há essa indexação. No Brasil, essas categorias que vão negociar são fortes e a indexação é maior.