Título: Dólar fica abaixo de R$ 1,60 pela 1ª vez em 9 anos
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 26/06/2008, Economia, p. 25

Bolsa de SP fecha em alta de 2,63% graças à decisão do BC americano, que manteve os juros em 2% ao ano

RIO, WASHINGTON e NOVA YORK. O mercado financeiro teve um dia de recuperação ontem, após a confirmação da manutenção da taxa básica de juros dos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em 2% ao ano. O principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa encerrou com valorização de 2,63%, aos 65.853 pontos. Com a forte entrada de recursos de investidores no país, o dólar recuou 0,69%, para R$1,592, abaixo de R$1,60 pela primeira vez desde 19 de janeiro de 1999, quando a moeda fechou em R$1,590.

Com a decisão de ontem, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) encerrou um ciclo de baixas que durou dez meses e teve o objetivo de estimular a economia, abatida pela crise de inadimplência no mercado de crédito imobiliário. Em seu comunicado, a instituição ressaltou sua preocupação com a inflação, pavimentando o caminho para uma futura alta dos juros.

"Apesar de persistirem riscos de desaceleração no crescimento, eles parecem ter diminuído, enquanto os riscos e expectativas para a inflação aumentaram", afirmou a nota.

A votação não foi unânime: nove diretores foram a favor de manter os juros, mas o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, queria elevá-los.

- O Fed precisará começar a elevar os juros em algum momento para lidar com a inflação - afirmou Matt King, diretor da Bell Investment Advisors. - É risco maior que o de recessão.

Mais um indicador mostrou ontem a crise no mercado imobiliário enfrentada pelo Fed: a venda de casas novas mês passado caiu 2,5% frente a abril e 40,3% frente a maio de 2007 - e a pressão da alta dos preços de petróleo e commodities (matérias-primas, como alimentos e metais) na inflação. Apesar de a cotação do petróleo ter recuado ontem, o barril ainda está acima de US$130, e várias empresas têm anunciado reajustes de preços. A inflação no varejo atingiu 4% em maio (índice anualizado). Está abaixo dos 4,1% de 2007 - a maior taxa em 17 anos -, mas muito alta para o gosto do Fed.

Warren Buffett continua apostando no real

O Fed não escapou da metralhadora giratória do investidor bilionário Warren Buffett. Em entrevista à rede CNBC, divulgada pouco antes da decisão do BC, Buffett afirmou que a inflação "está realmente se aquecendo". E se disse feliz pelo fato de o presidente do Fed ser Ben Bernanke, não ele. O bilionário também afirmou que as perspectivas para o dólar ainda são de desvalorização e disse continuar apostando na moeda brasileira. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,04% e o eletrônico Nasdaq, 1,39%.

No Brasil, boa parte da alta da Bolsa foi puxada pelas ações da Petrobras - que somam 16,78% do Ibovespa -, com investidores aproveitando para comprar os papéis, considerados baratos após caírem por mais de um mês. Ontem, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal subiram 2,69% e as ordinárias (ON, com voto), 2,80%. Desde a máxima histórica, em 21 de maio, as ações PN caíam 16,64%. As ações PNA da Vale subiram 2,65%, ainda devido aos reajustes do minério de ferro por outras mineradoras.

- O Fed se mostrou bastante preocupado com a inflação e menos com a atividade econômica. O mercado gostou do statement (documento com a explicação para a decisão) - diz Patricia Branco, sócia da gestora de recursos Global Equity.

Ela lembra que a bolsa brasileira subiu mais do que a americana ontem porque a Bovespa também sofreu mais com as desvalorizações recentes das matérias-primas, como petróleo e minério de ferro.

Ações da Embratel sobem com cisão da Telmex

O destaque de alta foi das ações do Banco do Brasil, que chegaram a subir 8,67% (fecharam em alta de 5,11%) com novas especulações sobre o interesse do banco em adquirir o Banrisul. Novamente, o BB negou haver negociações em curso.

Outra surpresa nos últimos dois dias foram as ações da Embratel, que subiram 22,37% na terça-feira e 28,16% ontem, após a criação da Telmex Internacional pela Telmex, controladora da Embratel. Na avaliação do mercado, as ações da brasileiras estavam muito desvalorizadas em relação às ações da nova empresa, já que 80% da receita dela têm origem na Embratel.

(*) Com agências internacionais