Título: Centro da meta será mantido em 4,5%
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/06/2008, Economia, p. 18

Fazenda aposta que pressão dos preços diminuirá no segundo semestre

Patrícia Duarte e Fernando Duarte*

BRASÍLIA e LONDRES. Na próxima segunda-feira, será confirmada em 4,5% a meta de inflação estabelecida para 2009, e o mesmo percentual será mantido para 2010, segundo consenso entre especialistas e também no governo. A inflação em alta, puxada pela demanda aquecida e pelos preços das commodities, criou uma amarra para a equipe econômica, impossibilitando o embate caloroso entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) que pautou o encontro de 2007 do Conselho Monetário Nacional (CMN), do qual também faz parte o ministro Paulo Bernardo (Planejamento).

A manutenção dos 4,5% - e do intervalo de dois pontos percentuais para mais ou menos no qual a meta pode oscilar - por um período longo é uma defesa da Fazenda sob o comando de Guido Mantega. A avaliação é que não é preciso mexer na meta de inflação de 2009 porque os índices darão um alívio no segundo semestre deste ano. Fixar uma meta maior que 4,5% seria admitir que os esforços do governo para conter a escalada dos preços não estão funcionando plenamente. Os técnicos da pasta aproveitam ainda para se vangloriar de que foi graças a Mantega que a meta não foi reduzida no ano passado.

Plano para safra visa a conter pressão de alimentos

Na reunião da semana passada com o presidente Lula, Mantega fez uma apresentação sobre o quadro de inflação mostrando que medidas como o aumento do IOF para pessoas físicas e o compulsório sobre as operações de leasing conseguiram reduzir o consumo das famílias, sendo que seus efeitos não foram totalmente sentidos. Ou seja, o consumo vai cair ainda mais. Além disso, o governo trabalha num plano para aumentar a produção agrícola na próxima safra, para alIviar os preços de alimentos.

O BC de Henrique Meirelles sempre defendeu um objetivo menor. Mas a escalada dos preços o deixou sem força e argumento suficientes para brigar por mudanças. Porém, falar em aumentar a meta de inflação também é totalmente proibido, pois passaria a mensagem de que o governo espera deterioração severa da inflação daqui em diante. Isso contaminaria as expectativas para os índices de preços, reforçando a necessidade de aperto nos juros. As projeções do mercado já ultrapassam os 6% este ano e caminham para os 5% em 2009. A meta tem sido fixada em 4,5% desde 2006.

- O BC não vai entrar numa briga que já perdeu em 2007, quando deveria ter acontecido a redução da meta de inflação já para 2009. Perdeu-se o timing - avalia o ex-presidente do BC Gustavo Loyola.

Ele se refere à confusão gerada pela equipe econômica ao anunciar em junho do ano passado que a meta de 2009 seria de 4,5%, mas que o BC poderia mirar em 4% apenas. A autoridade monetária já abandonou este foco diante da disparada de preços nos últimos meses.

Nem mesmo o BC está fincando o pé sobre uma meta menor neste momento e, por isso, os diálogos com a Fazenda e o Palácio do Planalto fluem bem nesse campo. Tanto é que Meirelles embarcou na última sexta-feira para uma viagem ao exterior, onde ficará por dez dias, indicando que as decisões já estão tomadas.

Meirelles: condições estão mais restritas

Em Londres, Meirelles afirmou ontem que o BC vai se manter fiel à meta de inflação e não descartou ações para conter a tendência de alta. Num discurso feito durante almoço promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Reino Unido, Meirelles, que iniciou ontem uma visita a Londres para uma série de reuniões com investidores, disse que manter a estabilidade é uma precondição para o crescimento sustentável:

- As condições monetárias tornaram-sem mais restritas.

(*) Correspondente