Título: A África rompe o seu silêncio
Autor: O Mundo
Fonte: O Globo, 26/06/2008, O Mundo, p. 27

Do Independent

A esperança tem sido uma estranha para o Zimbábue ultimamente. O país mergulhou numa ditadura assassina mais rapidamente do que qualquer um poderia imaginar que fosse possível. Nos últimos anos, foi roubada dos zimbabuanos a chance de se livrarem do regime de Robert Mugabe através das urnas. Mas a crescente inquietação dos vizinhos do Zimbábue a respeito do comportamento de Mugabe pode abrir espaço para otimismo: de que os líderes políticos do continente estejam finalmente começando a questionar a maneira como ele se agarra ao poder.

O partido governante na África do Sul, o ANC, declarou, embora em termos cautelosos, que o partido no governo no Zimbábue, o Zanu-PF, tem ¿cavalgado¿ sobre a democracia. O líder do ANC, Jacob Zuma, chegou a admitir publicamente o que o Ocidente há muito já sabe: que uma pressão eficaz sobre Mugabe deve incluir a participação regional, as potências africanas. Preocupações com o regime de Mugabe também foram claramente manifestadas pelos governos de Tanzânia e Senegal.

A condenação tem sido lenta por parte dos líderes africanos, mas eles merecem um elogio por finalmente terem rompido o silêncio. Tais declarações cuidadosamente feitas podem indicar que a relutância dos governos africanos em condenar um companheiro do passado na luta pela independência pode estar finalmente desaparecendo.

Pode-se ter a esperança de que esse novo engajamento leve a maior pressão política sobre Mugabe para que abandone o poder. Em particular, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, deveria agora rever sua relutância em condenar Mugabe e usar sua posição influente para estimular o tipo de mudança democrática no Zimbábue que deveria ter se seguido às eleições.

Mas, primeiro, os líderes africanos deveriam tratar de dois assuntos prementes. O líder opositor Morgan Tsvangirai necessita de salvo-conduto a partir de seu refúgio na Embaixada da Holanda em Harare. E os líderes africanos devem pressionar o regime a cancelar o segundo turno das eleições presidenciais de amanhã e, então, desprover Mugabe da sua camuflagem de legitimidade democrática.

Agora, é vital que os governos africanos não retornem ao seu silêncio. Mugabe deixou de integrar a causa comum africana há muito tempo. Os líderes do continente não precisam temer um rompimento com o passado ao condená-lo. Ao fazerem isso, eles não apenas puxarão o tapete de um regime brutal, como abrirão um novo capítulo na autoconfiança africana.