Título: Menos desemprego e renda
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 27/06/2008, Economia, p. 21
Taxa de desocupação cai para 7,9% em maio. Salários, com inflação, recuam 1%
Fabiana Ribeiro
Desemprego cai; rendimento do trabalhador, também. Em maio, a taxa de desocupação recuou, pela terceira vez consecutiva, para 7,9% nas seis regiões metropolitanas do país. Em abril, foi de 8,5%. Trata-se do melhor mês de maio desde 2002, quando o IBGE começou a fazer a pesquisa. E só perde para o desempenho de dezembro - típico período de contratações - de 2007. Os salários, no entanto, recuaram 1% de abril para maio, num claro efeito da alta da inflação dos últimos meses.
- Pode haver outras quedas no desemprego ao longo do ano, se as condições atuais se mantiverem, o que levaria 2008 a fechar com queda recorde na taxa. Por outro lado, parte do freio no rendimento se explica pela inflação, que corroeu a renda - disse Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE.
O ganho médio do trabalhador passou de R$1.219,80, em abril, para R$1.208,20 em maio. Queda de 1% de um mês para o outro. Mas, em relação a maio de 2007, houve crescimento de 1,5%.
João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, confirma que a inflação já corrói os salários, mas também ressalta o fato de, em relação a 2007, o rendimento ainda apresentar ganho. Já para Marcelo de Ávila, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), essa perda causada pela alta do custo de vida não preocupa:
- Não é um movimento preocupante: a inflação não deve se fortalecer tanto. Para se ter uma idéia, desde junho de 2004, pode-se dizer que o rendimento começou a deslanchar. Até os reajustes para mais de 80% das categorias foram acima da inflação em 2007. O que não deve se repetir este ano - afirma ele.
Construção civil contrata mais
Apesar do freio no rendimento mensal em maio, a massa de rendimento real (R$26,2 bilhões) cresceu 7,1% frente a igual período do ano passado. Em relação a abril, está estável, segundo o IBGE.
- Mais gente no mercado de trabalho significa massa salarial maior. Esse avanço é o que contribui para que a economia não sofra com uma desaceleração no comércio, por causa da inflação em alta - disse Júlio Gomes, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Saboia diz que o avanço da massa salarial não alimenta a inflação:
- A pressão de consumo não é suficiente para contribuir para a alta de preços. E a inflação está associada a efeitos externos.
Gomes acrescenta que o setor de construção civil apresentou avanços de 7,3% em relação ao maio de 2007. Ele conta que o segmento também influenciou os rendimentos menores em maio, já que o setor paga, em média, salário 21,1% abaixo da média da população ocupada.
- Com mais gente no mercado de trabalho, há mais iniciantes. E isso puxa o rendimento médio para baixo - acrescentou Azeredo, do IBGE.
Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima que, até o fim do ano, sejam criados 2,3 milhões de empregos - 5% a 7% mais do que no ano passado.
Para Azeredo, também há avanços em qualidade no emprego, com mais da metade dos trabalhadores na formalidade. E as perspectivas são positivas para o segundo semestre.
- São Paulo, com 43% da força do trabalho, é um termômetro para o país. O que acontece na maior metrópole da América Latina tende a se refletir nas demais regiões, trazendo taxas menores - disse Azeredo, acrescentando que a taxa média de desocupação nos cinco primeiros meses de 2008 é de 8,3% - abaixo do que se viu em 2007 (9,9%) e 2006 (10,1%).
Metalúrgicos querem ganho real
As boas notícias do mercado de trabalho chegaram a Karen Gonçalves há quatro meses. Após um ano desempregada, ela é hoje patinadora no shopping Nova América, em Del Castilho, onde cuida da manutenção do piso e dá informações aos clientes. Com o ensino médio incompleto, Karen afirma que encontrar um emprego não é tarefa fácil.
- Estou feliz por ter conseguido este emprego após tanta procura.
Com a alta da inflação, receber aumento real vai ser mais difícil nas negociações salariais. Os metalúrgicos de São Paulo, filiados à Força Sindical, fazem hoje a primeira reunião para discutir as reivindicações da campanha deste ano. Mas os sindicalistas já têm uma certeza: pedirão reajuste real, segundo Eleno Bezerra, presidente do sindicato da categoria, cuja data-base é 1º de novembro. Em 2007, conseguiram reajuste de 7,45% (reposição da inflação e aumento real de 2,6%).
Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Nível de Atividade da Indústria (INA) paulista passou por uma acomodação em maio: caiu 2,4% ante o mês anterior. Foi o pior desempenho desde 2002, quando o setor registrou alta de 0,6%.