Título: Petróleo bate recorde e derruba os mercados
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 27/06/2008, Economia, p. 23

Preços do barril ultrapassam os US$140 pela primeira vez na História. Bovespa cai 2,89% e Dow Jones, 3,03%

Juliana Rangel

NOVA YORK, DETROIT e RIO. Os mercados financeiros foram abalados ontem pelo aumento dos preços do petróleo que, pela primeira vez na História, romperam a barreira dos US$140 o barril. Citigroup e General Motors (GM) também ajudaram a derrubar os mercados, depois que o Goldman Sachs recomendou a venda de suas ações. A GM teve sua maior desvalorização em 33 anos e os papéis do Citi caíram ao menor patamar desde 1998. A Chrysler, por sua vez, negou rumores de que esteja preparando um pedido de falência, mas o desmentido não aliviou temores do mercado quanto ao futuro da empresa.

Influenciado pelo mercado externo, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, fechou ontem em queda de 2,89%, aos 63.946 pontos, chegando a cair 3,28% na mínima do dia. Com isso, o índice ¿ cuja alta superava 15% em maio ¿, praticamente zerou seus ganhos no ano, com valorização de apenas 0,09%. O dólar acompanhou a movimentação: sentiu o efeito da saída de recursos do país e subiu 0,63%, para R$1,602. Já o risco-país subiu 4,28%, para 210 pontos centesimais.

Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 3,03%, para 11.453 pontos. O Standard & Poor¿s 500, por sua vez, perdeu 2,94%, para 1.283. Por fim, o eletrônico Nasdaq recuou 3,33%, a 2.321 pontos. As ações da GM perderam 10,8%, para US$11,43, seu menor nível em 33 anos, e o Citi perdeu 6,26%, para US$17,67.

Mercado avalia efeito do petróleo na inflação

Já na Bolsa Mercantil de Nova York, os contratos do petróleo do tipo leve para entrega em agosto subiram 3,8%, para US$139,64 o barril. Durante a sessão, no entanto, chegou a ser cotado no patamar recorde de US$140,39. Na Bolsa Internacional de Petróleo, em Londres, o barril do Brent subiu 4,1%, a US$139,83, depois de ter batido o recorde de US$140,56. Segundo operadores, a alta foi provocada por nova desvalorização do dólar frente ao euro. Ontem, o euro fechou cotado a US$1,5764, contra US$1,5676 da véspera. Já o dólar caiu porque o mercado entendeu que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não vai elevar os juros agora.

Segundo o gerente de negociação eletrônica da Intra Corretora, Marcelo Faro, o mercado está avaliando as conseqüências do petróleo a US$140 para a inflação global.

¿ Os investidores começaram a questionar se a decisão do Federal Reserve de manter a taxa de juros no dia anterior foi acertada. Talvez fosse melhor dar um remédio amargo para controlar a inflação e, conseqüentemente, reduzir o preço do petróleo, já que a medida fortaleceria o dólar ¿ afirmou, lembrando que muitos especuladores estão apostando no petróleo em função do enfraquecimento da moeda.

O gerente de análises do Modal Asset Management, Eduardo Roche, lembra que a alta do petróleo não é boa para ninguém, nem mesmo para empresas que têm ganhos atrelados à variação da commodity, como a Petrobras.

Ontem, as ações da companhia se mantiveram em queda durante boa parte do dia e chegaram a recuar mais de 2%. À tarde, os papéis subiram, mas não sustentaram a alta e fecharam praticamente estáveis.

¿ A Petrobras não tem feito reajuste de combustíveis diretamente nas bombas. Além disso, tem que importar derivados, cujos preços estão subindo, sem contar os aumentos do custo de produção. Chega uma hora em que a alta do petróleo não compensa nem para a Petrobras ¿ diz.

Marcelo Faro lembra um estudo recente feito pela CMA, que mostrou que as ações da Petrobras têm correlação com os preços do petróleo em 60% das sessões.

(*) Com agências internacionais