Título: Microsoft começa, hoje, a vida sem
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Fonte: O Globo, 27/06/2008, Economia, p. 26

Fundador da gigante do software se aposenta aos 52 anos para se dedicar à fundação que dirige com a mulher

LOS ANGELES. Chega hoje ao fim a era Bill Gates. O fundador e todo-poderoso da Microsoft deixará de trabalhar na gigante do software para se dedicar à fundação beneficente que tem com sua mulher, Melinda, com quem se casou em 1994. Gates, de 52 anos, continuará como maior acionista e presidente do Conselho de Administração da Microsoft, mas deixará o comando da área tecnológica para Ray Ozzie, atual arquiteto-chefe de software.

Já o ¿rosto¿ público da empresa será o diretor de Pesquisa e Estratégia, Craig Mundie. Tarefa difícil, já que Gates, com óculos e sardas, o protótipo do nerd, é sinônimo de Microsoft ¿ e Windows ¿ depois de 33 anos à frente da gigante do software, criada junto com Paul Allen.

A fortuna de Gates é estimada em US$58 bilhões, tendo sido corroída pela malsucedida tentativa de comprar a rival Yahoo! este ano. Mas ele já avisou que tudo, à exceção de 1%, será doado. Um dos projetos da Fundação Bill & Melinda Gates é erradicar a malária.

A saída do fundador se dá em um momento difícil para a Microsoft, que não tem conseguido fazer face à hegemonia da Google no mercado de buscas na internet. A empresa de Gates tem apenas 8,5% desse mercado nos EUA, contra 60% da Google. Mas, como ele disse recentemente à revista ¿Newsweek¿, ¿se todas as vezes em que surge um concorrente interessante eu pensasse em ficar, morreria trabalhando¿.

Quando surgiu, a Microsoft queria colocar um computador em cada mesa. Hoje, seu sistema operacional Windows (na versão atual, Vista) é usado em mais de 90% dos PCs de todo o mundo. Mas os computadores saíram da mesa e hoje estão nas mãos das pessoas, em celulares ¿ um dos motivos para a Microsoft ter comprado, ontem, a empresa portuguesa de software para celular MobiComp.

Nestes 33 anos, a Microsoft tornou-se um gigante com 90 mil empregados, faturamento que deve passar de US$60 bilhões este ano e lucro líquido de quase US$18 bilhões, segundo a revista ¿Economist¿. Seu valor de mercado está em torno de US$260 bilhões, tendo atingido US$600 bilhões no auge da bolha da internet, em 2000.

Também houve problemas. Em 1991, a Comissão Federal de Comércio dos EUA abriu uma investigação para averiguar se a Microsoft estava monopolizando o mercado de sistemas operacionais, fechada dois anos depois sem queixa formal.

Em 1997, o Departamento de Justiça americano entrou com ação contra a Microsoft por obrigar os fabricantes de PCs a instalarem o Internet Explorer para usar o Windows. Em 1999, o juiz Thomas Penfield Jackson afirmou que a Microsoft era um monopólio e, no ano seguinte, determinou que fosse dividida em duas. Em 2001, o Departamento de Justiça desistiu de dividir a empresa. Mas, em 2004, ela foi multada pela União Européia em US$613 milhões por violações antitruste.

Zune e Vista não fizeram sucesso com usuários

Neste século, a empresa de Gates entrou no mercado de videogames, com o Xbox, e de música digital, com o Zune ¿ que não conseguiu fazer frente ao iPod, da Apple. Já sua nova versão do sistema operacional, o Vista, desagradou aos usuários, que têm voltado ao XP.

Amigos de Gates têm conjecturado sobre seu futuro. O bilionário Warren Buffett disse à revista ¿Fortune¿ estar ansioso para ver o que sairá da cabeça de Gates nessa nova fase. Buffett ultrapassou este ano o fundador da Microsoft e Carlos Slim, da America Móvil, no ranking dos ricaços da ¿Forbes¿. Gates ficou 13 anos no posto de homem mais rico do mundo.

Os brasileiros têm uma lembrança peculiar de Gates: garoto-propaganda do Unibanco, de uma campanha de 1994. Ele também já fez anúncios para Coca-Cola e Volkswagen.