Título: Alerta em Nova York
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Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2009, Mundo, p. 20

Com uma vítima da doença em estado crítico, a cidade mais populosa dos Estados Unidos decide fechar três escolas ¿por precaução¿. Diretor da OMS desmente que o vírus seja cria de laboratório

O vírus influenza A (H1N1), da gripe suína, provocará mais uma vez alterações na rotina da cidade mais populosa dos Estados Unidos. Após a detecção da primeira vítima em estado crítico, Nova York terá três de suas escolas fechadas hoje. O paciente é um funcionário de uma escola de ensino médio no Queens, bairro que abriga dois dos três principais aeroportos da cidade. Até agora, 3.352 casos da doença foram confirmados nos EUA, mas apenas três pessoas morreram. De acordo com o último boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de ocorrências em todo o globo aumentou para 6.497, e o de mortes, para 69, sendo 64 no México. O número de países com vítimas se mantinha o mesmo (33) até a noite de ontem, quando o Peru confirmou seu primeiro caso.

De acordo com o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, nas três escolas que serão fechadas estudam no total 4,5 mil alunos. Por ¿medida de precaução¿, elas só reabrirão após cinco dias úteis. ¿Como os sintomas da nova gripe se assemelham aos de uma gripe normal, o vírus parece ter se alastrado rapidamente, então fecharemos essas escolas para frear a transmissão¿, explicou o prefeito. Bloomberg disse ainda à imprensa local que o funcionário, cujo nome não foi divulgado, poderia ter tido problemas de saúde anteriores, que o teriam tornado ¿mais vulnerável¿. Na mesma escola, quatro estudantes foram diagnosticados com a nova gripe e mais de 50 foram mandados para casa, desde 6 de maio, por apresentarem sintomas.

Apesar de o mundo continuar verificando o surgimento de novos casos, o diretor-geral adjunto da OMS, Keiji Fukuda, tentou amenizar o tom em uma teleconferência com jornalistas. Segundo ele, o surto de gripe ainda não é uma pandemia, porque não se estabeleceu fora do continente americano. ¿Se observarmos mudanças na gravidade (da doença), avisaremos todo o mundo¿, garantiu. O representante da OMS, contudo, reafirmou que a situação continua a exigir ¿monitoramento atento¿.

Vírus natural Fukuda aproveitou a oportunidade para descartar a hipótese de que o vírus da gripe A tenha surgido em laboratório. A possibilidade foi sugerida na última terça-feira pelo cientista australiano Adrian Gibbs, que alega que a mutação do H1N1 aconteceu por erro humano, durante procedimentos de pesquisa. Segundo Gibbs, que colaborou no desenvolvimento do medicamento Tamiflu, do laboratório Roche, a nova cepa teria surgido acidentalmente, a partir das culturas feitas com vírus para desenvolver vacinas.

A OMS, no entanto, garante que essa suposição foi descartada após investigações feitas pela sua rede de laboratórios. ¿As evidências mais claras apontam que o vírus se originou na natureza¿, disse Fukuda. O diretor-geral adjunto do organismo disse saber que as especulações continuarão mesmo após essa pesquisa dirigida pela OMS, principalmente pelo fato de não haver ¿informação suficiente para dizer onde nasceu o vírus, em qual país ou região¿.

Ontem, governos, empresas do ramo farmacêutico e a OMS se reuniram para discutir a possibilidade de concentrar esforços na produção de uma vacina contra a gripe suína, deixando de produzir a imunização para a gripe comum. ¿Há muitos assuntos a serem levados em conta, como o fato de que a gripe comum mata a cada ano centenas de milhares de pessoas no mundo. Por outro lado, há também o risco de uma pandemia da nova gripe¿, ponderou Fukuda. Além disso, é preciso estabelecer regras para a utilização da nova vacina ¿ por exemplo, se os países que compartilham um vírus poderão ficar isentos de pagar as patentes dos remédios e vacinas desenvolvidos a partir dos organismos.