Título: Opção simplória
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Fonte: O Globo, 28/06/2008, Opinião, p. 6

Por princípio, combater o alcoolismo é um desafio a ser enfrentado por qualquer governo, pelo alto teor de dramas que a doença carrega para o seio das famílias que com ela convivem e, não menos importante, pelo alto custo que dela decorre na aplicação dos orçamentos dos programas oficiais de saúde, em especial o SUS. Trata-se de um flagelo, comum ao Brasil e a diversos países, que precisa ser enfrentado com políticas coerentes, perenes e responsáveis.

Por essa razão, é inaceitável a opção do governo federal de, em vez de aprofundar a discussão sobre as causas desse mal e políticas públicas para combatê-lo, partir para supostas soluções de impacto imediato, como é o caso da iniciativa de restringir a publicidade das chamadas bebidas de baixo teor alcoólico. Ao agir assim, o Planalto espeta na conta da atividade econômica a fatura de um problema que, na verdade, deveria ser enfrentado em outras frentes.

Além de levar para o plano do diversionismo a discussão sobre as causas da doença, a iniciativa do governo atropela o mercado publicitário, que dispõe de um órgão ¿ o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação (Conar) ¿ com respaldo profissional suficiente para depurar excessos na publicidade e cobrar responsabilidades das agências. A impropriedade, por sinal, repete-se agora em relação aos alimentos industrializados, novo alvo do pendor censório do ministro da Saúde.

Ou seja, ao procurar legislar sobre uma atividade econômica que tem sua dinâmica particular, o Planalto avoca um problema para o qual não dispõe de políticas efetivas. Às suas próprias deficiências, o governo sobrepõe a saída fácil e equivocada de punir quem produz e cria empregos.

Por que, em vez de proibir a publicidade das bebidas de baixo teor alcoólico, ou restringi-la, o governo não procura atuar nas instâncias de discussão criadas pelo Conar? Não é um bom caminho, para a sociedade e para a saúde econômica de uma atividade tão pujante como a publicidade, fazer a opção simplória pelo tacão da censura, em detrimento do bom senso e do diálogo.