Título: Reservas internacionais batem US$200 bi
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 28/06/2008, Economia, p. 29
Valor é recorde. Volume cresceu 11% este ano, contra 69% no mesmo período de 2007
BRASÍLIA. As reservas internacionais brasileiras chegaram à casa dos US$200 bilhões, número recorde e que alimenta ainda mais as discussões sobre a necessidade de o país continuar mantendo um colchão tão grande. De acordo com o Banco Central (BC), as reservas fecharam quinta-feira - último dado disponível - em US$200,231 bilhões, volume mais do que suficiente para manter o país credor sobre sua dívida externa.
Para alguns especialistas, esses valores de agora já são suficientes para trazer segurança ao Brasil frente a percalços internacionais e, assim, não haveria mais a necessidade de continuar com a política intensa de reforçá-las. O argumento principal é de que boa parte das reservas- mais de 90% - está aplicada em títulos públicos de economias desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, com rendimentos muito baixos e em dólares. Para o Brasil, neste ponto, o saldo fica negativo porque o país paga muito mais por seus papéis e ainda sofre com a valorização do real frente ao dólar.
- As reservas são um seguro para eventuais crises de liquidez internacional, mas o BC está com bastante munição já. Esses recursos poderiam ser usados para constituir fundos soberanos, por exemplo - afirmou o economista-chefe do banco Itaú, Tomás Málaga.
BC poderá usar títulos para controlar inflação
O BC tem reiterado que manterá sua política de fortalecimento das reservas internacionais, adotada desde o início de 2004, e que os ganhos não devem ser mensurados apenas de maneira numérica. Há recompensas qualitativas, como a percepção de risco sobre o país menor com as reservas mais gordas. Apesar disso, claramente o BC tem tirado o pé do acelerador nesse processo de compra de dólares para reservas: neste ano, o crescimento do colchão foi de 11% e, no mesmo período de 2007, o avanço foi de 69,5%.
O fortalecimento dessa conta também acabou tendo impacto nos instrumentos do próprio BC para o combate a inflação. Além da taxa básica de juros - hoje em 12,25% ao ano -, o BC também pode agir comprando ou vendendo dinheiro no mercado. Ou seja, pode retirar ou colocar dinheiro de circulação. Com o intuito de compor as reservas, a instituição vendeu parte dos seus títulos públicos que estavam em carteira e, como desde 2002 não pode mais emiti-los, acabaram se tornando insuficientes para controlar a oferta de moeda. Hoje, essa carteira está em cerca de R$116 bilhões, mas já chegou a ser de aproximadamente R$170 bilhões.
Com isso, o governo editou ontem uma medida provisória que autoriza o Tesouro Nacional a emitir papéis especialmente para o BC, que poderá utilizá-los para equilibrar a base monetária do país. O BC explicou que ainda não há previsão de quando acionará o novo mecanismo, mas adiantou que não serão criados títulos específicos. Ou seja, serão usados os papéis já emitidos pelo Tesouro Nacional. (Patrícia Duarte)