Título: Cai o número de homicídios
Autor: Costa, Célia; Amora, Dimmi
Fonte: O Globo, 02/07/2008, Rio, p. 11
Estatística mostra queda de 18,7% em abril; redução no primeiro quadrimestre foi de 8,7%
Célia Costa e Dimmi Amora
O número de homicídios dolosos - quando há intenção de matar - no Estado do Rio vem caindo nos últimos meses e em abril registrou uma redução de 18,7% em relação a abril do ano passado. A diminuição no número de casos, que representou menos 107 vítimas, é um dos destaques do balanço dos registros de criminalidade de abril divulgado ontem pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Especialistas disseram que qualquer queda no número de homicídios significa vidas salvas e é necessário comemorar. Mas, segundo eles, é preciso um tempo maior de análise para saber se há uma tendência de queda consistente.
Em abril de 2007, foram 572 mortos e, em abril deste ano, 465. Ainda segundo a análise do ISP, em toda a série histórica, desde 1991, o menor número de mortes no mês de abril foi registrado este ano. No acumulado de quatro meses, houve uma redução de 8,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
- Temos entre cinco mil e seis mil homicídios por ano no Rio. Uma queda de 5% são 300 vidas humanas. É para comemorar. Mas, quando você tem um mês com redução de quatro, outro com 18 e outro com aumento, não há ainda um padrão - afirmou Gláucio Soares, pesquisador do Centro de Pesquisas e Ensino de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Iuperj). - Do início do governo Garotinho (1999) até agora, os homicídios oscilaram num patamar alto, mas oscilaram pouco.
Redução em 16 dos 39 índices
Mesmo com a redução de casos, os números de homicídios são altos. Entre os 572 mortos em abril, está o empresário português Abel Tavares Pereira, de 67 anos, assassinado com um tiro próximo à saída sete da Linha Amarela, na altura de Bonsucesso. O empresário era sócio da empresa Pinheiro Tintas, uma das maiores do ramo, que detém 11 lojas em todo Rio.
Ou ainda o caso do cabeleireiro flamenguista Luzivânio de Freitas Antônio, que foi espancado por integrantes da sua própria torcida no dia 12 de abril no Maracanã e morreu 12 dias depois no Hospital Souza Aguiar. E ainda o caso do sargento da Polícia Militar Edgard de Freitas Navarro, de 39 anos, que foi assassinado a tiros ao reagir a um assalto em Cascadura. A execução foi testemunhada pelo filho e pelo neto do policial.
A socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), assim como Gláucio, também concorda que qualquer redução nos homicídios é importante. Mas, segundo ela, no Rio de Janeiro o número continua alto e, além disso, tem que ser associado ao número de desaparecidos (que, segundo a própria polícia, tem quase dois terços dos casos relacionados a homicídios) e ao número de autos de resistência.
- Só pode haver uma tendência sustentável quando tiver uma série maior para analisar - disse Julita.
Pelos dados do ISP, o número de desaparecidos teve uma redução de 6% na comparação do primeiro quadrimestre deste ano com o do ano passado. Já o número de autos de resistência (mortes em confronto com a polícia) continua aumentando. Foram 12% mais casos na comparação de janeiro a abril de 2007 contra o mesmo período de 2008.
No entanto, outros crimes considerados prioridades pela Secretaria de Segurança Pública, tiveram aumento em abril. Um deles, roubo a transeuntes, com um aumento de 14,5%, comparando abril de 2007 (4.809) com abril deste ano (5.504). Foram 21.996 ocorrências no acumulado de 2008 e 18.141 casos no acumulado - de janeiro a abril - de 2007, o que representa mais 21,3% . Ou seja, 3.855 casos a mais em relação ao mesmo período do ano passado.
Dos 39 índices medidos, 16 tiveram redução em relação ao mesmo período de 2007. Entre eles, latrocínio - roubo seguido de morte - que este ano registrou 13 casos e teve redução de 13,3% em relação a abril do ano passado, quando ocorreram 15 mortes. No entanto, quando a comparação leva em conta o acumulado em quatro meses, há um aumento de 18,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 65 casos registrados nos quatro primeiros meses deste ano e 55 casos ocorridos em 2007.
Outros delitos que registraram queda foram furto de veículos (menos 305 casos), roubo em coletivos (queda de 61 casos) e estupro (menos 26 vítimas). Já o roubo de aparelho celular teve aumento de 199 casos. Um dos itens que vêm aumentando nos últimos meses é o auto de resistência, quando a morte ocorre durante confronto com a polícia. Em abril, houve aumento de 9,9% em relação ao mesmo mês de 2007. No acumulado deste ano ocorreram 502 casos, enquanto nos quatro primeiros meses de 2007 foram 449, um aumento de 11,8%, mais 53 mortes. Para o sociólogo Gláucio Soares, o aumento do auto de resistência é uma vergonha:
- Significa uma política que, em verdade, está dando certo, mas é uma admissão de um primitivismo no enfrentamento do crime. Certamente há soluções melhores que o enfrentamento, mas que podem não ser do agrado da população ou do governo.