Título: Filho de promotora depõe em horário especial
Autor: Cássia, Cristiane de; Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 02/07/2008, Rio, p. 12

Ouvido durante três horas pela polícia, rapaz confirma a versão de PM que cuidava de sua segurança e atirou

Cristiane de Cássia e Elenilce Bottari

Na calada da noite de anteontem, o filho da promotora que se envolveu na confusão em Ipanema na madrugada de sábado que culminou com a morte do jovem Daniel Duque, de 18 anos, em frente à boate Baronetti, prestou depoimento na delegacia. Graças ao privilégio, concedido a personalidades que não querem se expor, o estudante Pedro Velasco Adnet, de 19 anos, chegou à 14ª DP (Leblon) para depor por volta das 22h, quando a imprensa já havia deixado o local. Em três horas de depoimento, o rapaz confirmou a versão do soldado PM Marcos Parreira do Carmo, que cuida de sua segurança por conta das ameaças recebidas por sua mãe, a promotora Márcia Velasco. O soldado, que está preso, alega legítima defesa.

Pedro disse que, na madrugada de sábado, depois de ir à boate Boox, chegou à Baronetti, que fica ao lado, por volta das 3h45m. Ele estava acompanhado de três amigos, entre eles o jogador Diguinho, e do segurança. Segundo Pedro, o policial entrou separado do grupo porque teve de deixar a arma guardada em outro local da boate.

Os amigos ficaram na boate durante cerca de uma hora e meia. Na saída, o filho da promotora disse que foi procurado por um conhecido chamado Bruno. Esse rapaz estava com uma menina e pediu ajuda porque estaria sendo perseguido. Pedro alega ter dito ao segurança que ia dar uma carona ao casal, mas um grupo chegou fazendo ameaças e chutando o seu carro: um BMW 120.

Pedro disse que os chutes amassaram as portas traseiras do BMW. O carro foi apreendido após o depoimento e periciado.

De acordo com o estudante Alexandre Beltrão, amigo de Daniel, os chutes foram dados no carro depois dos disparos. O grupo que estava com o jovem que tinha acabado de ser baleado e outras pessoas que presenciaram o tumulto teriam tentando impedir a saída do policial, de Pedro e seus amigos no BMW com socos e pontapés.

¿ Após os tiros, eles tentaram fugir. Nessa hora, todo mundo partiu para cima do carro, até os flanelinhas. Eles aceleraram, mas alguém conseguiu abrir a porta. Mesmo assim, eles partiram em disparada ¿ relatou Alexandre, acrescentando que a confusão teria começado dentro da boate, quando um amigo de Daniel pisou sem querer no pé de Pedro.

Polícia analisa imagens das câmeras da boate

A versão de Pedro, porém, é que os tiros só foram disparados depois dos chutes no veículo. O jovem contou em depoimento que o policial tentou conter o grupo agressor e se identificou como PM. Como três jovens estariam se preparando para atacá-lo ¿ um deles seria Daniel ¿, o soldado fez dois disparos para o alto. Neste momento, Pedro contou que se afastou da confusão, mas, de longe, ouviu que um dos jovens teria dito ¿vamos tomar a arma dele¿ e, em seguida, soou o terceiro tiro. Pedro disse que saiu dali rapidamente com os amigos e o policial, num total de sete pessoas num carro só. Apenas no início da tarde de sábado Pedro soube que Daniel tinha sido baleado e morto.

As imagens feitas pelas câmeras da Baronetti ainda estão sendo analisadas. Ontem à noite a mãe de Daniel levou à delegacia a camisa que ele usava na noite do crime para ajudar nas investigações. O prazo para a conclusão das investigações termina no início da próxima semana, mas o diretor de Policia da Capital, delegado Sergio Caldas, afirmou que espera concluir o inquérito até sexta.