Título: FMI faz alerta: a crise veio para ficar
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 02/07/2008, Economia, p. 20

Estudo do Fundo revela que efeito da alta dos preços pode ser ainda pior

José Meirelles Passos

WASHINGTON. Ao apresentar ontem a mais ampla avaliação feita até hoje sobre o impacto dos crescentes preços dos alimentos e do petróleo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que não haverá trégua: a crise veio para ficar. E advertiu que as conseqüências podem ser maiores e piores do que se imagina pois o problema ganha corpo. Esse estudo, disse o Fundo, é ainda uma primeira análise cujos resultados finais permanecem abertos, imprevisíveis.

- O que sabemos é que a situação continuará se desenvolvendo, mas não sabemos como - admitiu Mark Planta, vice-diretor do Departamento de Desenvolvimento de Políticas e Revisão do FMI, ao apresentar o trabalho.

Pouco antes, ao fazer uma apreciação da situação, o próprio diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, disse que embora o desafio seja universal, ele é mais difícil para os países de menos recursos:

- Para os países ricos essa crise tem efeitos na inflação e, portanto, afeta o seu padrão de vida. Mas para os países de renda média e baixa, a situação é mais grave, pois uma de suas conseqüências é a subnutrição - disse o titular do FMI.

Ele alertou ainda que se não houver cooperação mundial para aliviar o problema, por meio de uma resposta coordenada, alguns governos serão incapazes de alimentar a sua população e, ao mesmo tempo, manter a estabilidade de sua economia, sobretudo na África, no Haiti e na Nicarágua.

- Alguns países já atingiram um ponto crítico. O impacto no balanço de pagamentos da Libéria, por exemplo, é equivalente a 15% do seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). E isso é equivalente a todo o estoque de reservas estrangeiras daquele país - afirmou Strauss-Kahn.

Ele ressaltou que os preços do petróleo têm uma carga maior para as nações ricas, mas os dos alimentos castigam mais a maioria dos países, já que absorvem a maior a parcela da renda de seus habitantes. A situação do Brasil nesse quadro é menos penosa, pelos cálculos do Fundo.

FMI: efeito da crise no Brasil deve ser moderado

O peso de alimentos, bebidas e combustível nos gastos residenciais dos brasileiros são tidos como moderados: vão de 25% a 40% da renda familiar. Além disso, o impacto dos dois choques - preços do petróleo e de alimentos - deve causar, até 2009, um acréscimo de apenas 0,1 ponto percentual no déficit do país. Sem aqueles choques o Brasil teria um déficit equivalente a 0,9% do PIB; e levando em conta os dois choques tal déficit deverá ser de 1% do PIB, segundo o FMI.

Strauss-Kahn disse que cada caso é um caso. Não existe, segundo ele, uma solução igual para todos, "como o Fundo costumava receitar no passado". Para o executivo, a resposta mais imediata seria o G-8 (grupo dos sete países mais ricos, mais a Rússia), em sua reunião da próxima semana, determinar uma rápida conclusão da rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), e que isso fosse alcançado por meio da eliminação ou, no mínimo, uma redução dos subsídios dos países ricos à sua agricultura e à sua produção de biocombustíveis.