Título: Sul-americanos rechaçam lei de imigração
Autor: Oliveira, Eliane; Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 02/07/2008, O Mundo, p. 26

Mercosul e associados enviarão ao Parlamento Europeu documento condenando novas regras

Eliane Oliveira e Janaína Figueiredo

TUCUMÁN, Argentina. Os países sul-americanos reagiram ontem, em bloco, às novas regras de imigração aprovadas pelo Parlamento Europeu. Em reunião ontem entre os chefes de Estado do Mercosul e dos países associados ao bloco (Chile, Venezuela, Bolívia e representantes da Colômbia, do Peru e do Equador), foi aprovada uma declaração rechaçando a chamada Lei do Retorno e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que há uma perseguição aos latino-americanos com motivações racistas.

- Continuaremos prestigiando os canais de participação da sociedade civil e favorecendo a livre circulação de homens e mulheres quando, no outro lado do oceano, desencadeia-se odiosa perseguição aos latino-americanos, muitas vezes cercada de conteúdos racistas.

Líderes estudam recorrer ao Comitê de Direitos Humanos da ONU

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que, além do documento aprovado ontem - que será enviado ao Parlamento Europeu - estuda-se como alternativa recorrer ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Para Amorim, as novas normas são exageradas e se assemelham ao que foi imposto ao Exército Republicano Irlandês (IRA).

- Não é possível, por exemplo, deter uma criança e tratá-la como se ela fosse terrorista - afirmou o chanceler.

Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que a nova lei contra a imigração da União Européia representa uma "barbárie". Em sua opinião, há uma "crise de bom senso" no mundo.

- Não podemos nos limitar a protestar. É preciso buscar uma posição comum e prever ações. A Europa legalizou a barbárie, pois se trata de algo digno das piores épocas - disparou o presidente venezuelano.

Lula, por sua vez, disse que a idéia é tentar convencer os europeus a refletir.

- Sempre tratamos as pessoas muito bem no Brasil e, creio eu, em toda a América do Sul. Todos os imigrantes que chegaram ao Brasil ajudaram o país a se desenvolver em todas as áreas, na cultura, nas artes, na engenharia. Queremos apenas um tratado igualitário - disse o presidente brasileiro.

Lula defende o fim dos subsídios agrícolas

Lula destacou que, num momento em que os Estados Unidos estão preocupados com a imigração e a Europa adota regras mais rígidas, o melhor para os países pobres e em desenvolvimento seria que os subsídios agrícolas fossem retirados. Assim, ninguém buscaria outro país para viver.

- Ninguém quer ficar transitando. É melhor ajudar os países mais pobres a se desenvolver - afirmou.