Título: Analistas: investidor deve evitar mercado de ações
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 02/07/2008, Economia, p. 21

Fundos DI ainda perdem para inflação, mas são mais seguros e podem se recuperar com novas altas de juros

Felipe Frisch

Num cenário em que as aplicações financeiras não conseguem superar a inflação - medida pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que acumulou alta de 6,82% no primeiro semestre -, a preocupação do investidor é, pelo menos, reduzir as perdas geradas pelos aumentos de preços. A primeira recomendação dos especialistas é manter a calma.

Para quem já investiu no mercado de ações, a hora não é de sair - vender as ações -, pois isso pode significar colocar o prejuízo no bolso, transformar a variação das cotações em realidade. Já o investidor que está fora do mercado de ações deve continuar assim, alerta Fabio Gallo Garcia, professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas e da PUC-SP.

- O investidor só deve "realizar a perda" (vender as ações que caíram) se isso estiver em sua estratégia. Ou seja, se tiver atingido o seu potencial máximo de perda suportável - diz o professor.

Já para quem recebeu algum dinheiro novo e está pensando em aplicar, as melhores alternativas podem ser mesmo as mais conservadoras. A pior opção em tempos de inflação é ficar com o dinheiro parado.

- Quem está querendo fazer alguma aplicação agora deve procurar a renda fixa pós-fixada (os tradicionais fundos DI, que acompanham a taxa básica de juros, Selic, em 12,25% ao ano), um CDB (títulos privados, emitidos por bancos) de longo prazo, ou mesmo títulos do Tesouro Nacional, que não vão ganhar da inflação, mas têm juros altos. Pode pelo menos recuperar uma parte - diz Fabio Gallo.

Com perdas nas aplicações, há risco de alta no consumo

O investidor que está no melhor dos mundos hoje é o que comprou Notas do Tesouro Nacional da série C (NTNs-C), títulos públicos do governo federal que pagam juros semestrais e são corrigidos pelo tão temido IGP-M. O problema é que esses papéis não são mais vendidos pelo Tesouro Direto - sistema de negociação de títulos públicos para pessoas físicas - desde junho de 2006.

O risco, quando os investidores começarem a perceber que o dinheiro aplicado está perdendo seu poder de compra, é eles passarem a consumir mais, alerta o administrador de investimentos Fabio Colombo. Isso pode gerar um efeito de bola-de-neve, pois tende a provocar mais inflação, com uma eventual explosão do consumo.

- Se o dinheiro que está investido começa a não render (em relação à inflação), as pessoas começam e se perguntar se não têm que comprar um utensílio ou trocar de carro- avalia Colombo, para quem o Banco Central deveria pensar em aumentos de juros mais fortes nas próximas reuniões, para evitar mais esse impulso à inflação via consumo.

Para o superintendente de investimentos do Banco Real, Eduardo Jurcevic, o investidor deve ser fiel às estratégias de quando definiu o seu perfil, para não correr o risco de tomar a decisão errada trocando de aplicações quando elas estão em queda.

- Os investimentos de renda fixa devem continuar perdendo da inflação. Nessas horas, as pessoas começam a procurar aplicações pós-fixadas (que acompanham os juros pela taxa Selic) - diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Plenus Gestão de Recursos e diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM.

Ele lembra que os fundos e títulos prefixados (chamados apenas de "renda fixa" pelos bancos) acabam mudando, ficando mais voláteis quando o mercado está nervoso.